Toda a aldeia que se preze tem um café Central – e Leiria também já merecia um. A provocação do novo projeto cultural de Leiria está no nome, mas esse é só o começo. Numa das lojas esquecidas do centro histórico, nasce Café Central, onde até pode vir a ser servido café, mas com “cheirinho” a cultura e provocação.
Em parte herdeiro da Preguiça Magazine – Ricardo Graça e Cláudio Garcia, fundadores desse outro projeto cultural, são dois dos envolvidos, aqui com João Rino e Daniel Santos no núcleo duro da equipa -, Café Central quer agitar a “cevada” em que se tornou a cidade. Os quatro responderam ao REGIÃO DE LEIRIA:
O que é O Café Central?
Se quisermos dizer a verdade mentindo é uma associação, se quisermos mentir dizendo a verdade é uma mercearia cultural, uma loja maçónica sem regras, um espaço de liberdade, criação e encontro, onde podemos ser facilitadores, activadores, conversadores ou só pessoas que gostam de fazer coisas com outras pessoas que gostam de fazer coisas e que se movem no caminho do bem para resolver todos os problemas do mundo, inclusivamente os de Leiria. Sempre sob o desafio de promover, preservar e dinamizar a memória e identidade Leiriense, seja lá isso o que for, funcionando como fachada para o grande objectivo, diversão e algum coaching autárquico e empresarial.
Porque razão aparece agora?
Como temos um grande talento para o negócio, achámos que, agora, em pequeno fim do mundo pandémico, impedidos de juntar pessoas ou abrir lojas, abrir um espaço onde é suposto se juntarem pessoas era uma boa ideia. Como também somos uns convencidos do pior e padecemos todos da síndrome do herói também achámos que agora era uma boa altura para tentarmos fazer o que não se tem vindo a fazer. Cultura, diálogo democrático, dinamização do centro histórico, apoio à criação através de, pelo menos, números de telefone, parcerias e amantizações associativas e exposições de qualidade que se podem ver até em modo passeio higiénico. No fundo, aparece agora porque acreditamos no produto biológico cultural.
Que balanço fica do que já fizeram?
Fazendo um balanço parece-nos que estamos a ir bem. Os postais de Leiria, que são para continuar, preservam a memória de parte do centro histórico, guardando para o futuro o presente e algum passado de muitos de nós. As reuniões de condomínio propuseram-se a debater o estado da nossa cidade dando voz a ilustres e a desconhecidos e com esses contributos delinear um documento que nos guie de 2021 a 2031, foi tudo conseguido menos o que depende exclusivamente de nós. A exposição do Nuno André Ferreira, que, para além de mostrar o trabalho excelente de um dos nossos, ainda trouxe a Leiria uma fotografia premiada pelo World Press Photo e outras premiadas com outros prémios, dando a possibilidade a quem quiser de a as ver sem ser multado pela PSP ou correr riscos sanitários.
E planos para o futuro?
Sobreviver e pagar o maior número de rendas possível, alcançar o número de sócios do UDL, tomar de assalto o antigo edifício da EDP, promover o que nos apetecer, contar e ouvir histórias, “tinderizar” artistas, públicos e associações, replicar o Júlio Isidro no nosso canal de TV do instagram e descobrir novos talentos salvando-os da fábrica e dos reality shows, descobrir o campeão distrital de matraquilhos, recuperar a quermesse do obscurantismo, fazer uma suruba de morcelas com brisas, alcatifar o Polis e por fim conquistar a câmara para evitar que o Futuro seja definido em ajustes directos a não ser que sejam connosco.