O projeto “Elos com Futuro” quer dar apoio ao luto em Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, os concelhos do distrito de Leiria mais afetados pelos incêndios de junho de 2017.
“Após os incêndios, aquilo com que os concelhos se depararam foi que havia uma falta de apoios adequados a pessoas que tenham sofrido perdas pessoais profundas”, disse à agência Lusa a coordenadora do projeto, Joana Pereira.
Segundo a psicóloga, “foi nesse sentido que o projeto nasceu, como uma forma de dar alguma resposta no apoio ao luto e, principalmente, na capacitação de pessoas que possam depois posteriormente estar habilitadas e ter competências para dar esse apoio sempre que seja necessário”.
O projeto nasceu em 2019 e tem como entidades implementadoras as misericórdias dos três concelhos, sendo a Santa Casa de Figueiró dos Vinhos “a entidade coordenadora”.
Aprovado no âmbito do Portugal Inovação Social, “Elos com Futuro” tem um financiamento de 337.818 euros, sendo 70% do Portugal 2020 e os restantes 30% suportados pelos municípios de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande.
De acordo com o ‘site’ Portugal Inovação Social, o projeto tem como meta envolver diretamente 417 destinatários finais dos três municípios – nomeadamente 255 crianças, jovens e adultos enlutados nas ações de apoio ao luto, através de sessões individuais presenciais e à distância e de grupos de partilha, e 162 pessoas, entre colaboradores das instituições parceiras e pessoas em luto, nas ações/‘workshops’ específicos de capacitação para o apoio ao luto.
“Por um lado, queremos fazer a capacitação para o apoio ao luto e queremos abranger principalmente os colaboradores e utentes das nossas instituições, mas também todos os membros da comunidade que queiram participar nesta capacitação”, adiantou a coordenadora do projeto.
Por outro lado, o projeto quer “disponibilizar sessões de apoio ao luto individuais a pessoas de toda a comunidade”, além da criação de grupos de partilha, “de acordo com o tipo de perda que as pessoas tenham sofrido”, a que se soma atividades de ocupação de tempos livres.
“O ideal era ter, por exemplo, um grupo de viúvos, um grupo de pais que perderam filhos”, especificou Joana Pereira.
Para já, está em curso a capacitação de 20 pessoas, a maioria funcionários da Misericórdia de Figueiró dos Vinhos e membros desta comunidade, num trabalho ‘online’.
A psicóloga explicou que, quando terminar a formação, estes funcionários podem vir a acompanhar as pessoas enlutadas, mas não só.
Tendo as instituições colaboradores com estas habilitações para dar apoio ao luto e sendo, por exemplo, as misericórdias espaços onde se lida com a morte, devido aos lares e às unidades de cuidados continuados, haverá sempre alguém para dar apoio às famílias ou mesmo aos utentes quando começam a ter perdas, de autonomia ou de capacidades cognitivas, apontou Joana Pereira, assinalando que as competências que as pessoas estão a adquirir “são para lidar não só com o acontecimento da morte, mas também com outras perdas”, até do emprego ou um divórcio.
Desenvolvido para três anos, “Elos com Futuro” tem como “parceiro principal” a associação de apoio ao luto APELO, de Aveiro, fundada e dirigida pelo professor José Eduardo Rebelo, que está a dar a formação da capacitação e vai ser responsável pelas sessões individuais de apoio ao luto e grupos de partilha, o passo seguinte neste projeto.
“A pandemia fez atrasar imenso. Esta temática do apoio ao luto exige o contacto humano, é muito difícil darmos apoio ao luto a pessoas, principalmente pessoas já de alguma idade”, através das novas tecnologias, admitiu Joana Pereira.
O projeto quer ainda desenvolver atividades de ocupação de tempos livres.
“O luto leva-nos para o isolamento e com estas atividades queremos combater, através de ateliês de pintura e leitura, ‘workshops’ de cozinha ou sessões de cinema”, afirmou.
O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Escalos Fundeiros, Pedrógão Grande, afetou, particularmente, este concelho e ainda Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. Alastrou ainda a outros municípios, de Leiria, Coimbra e Castelo Branco. Provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, e destruiu cerca de 500 casas, 261 das quais habitações permanentes, e 50 empresas.
“Este projeto vai ser tão útil nestas três comunidades tão sofridas pelos incêndios, que é mesmo muito importante implementá-lo”, acrescentou Joana Pereira.