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Árbitro leiriense Pedro Costa defende que surdos são “tão capazes” como os outros

Entrevista foi realizada com o árbitro da Associação de Futebol de Leiria e divulgada hoje para assinalar o Dia Nacional da Educação de Surdos.

Os surdos não são vistos como tendo capacidades iguais às outras pessoas, mas são “fisicamente tão capazes” como elas, defendeu o árbitro surdo de futebol, Pedro Costa.

Numa entrevista em língua gestual portuguesa, divulgada pelos canais de comunicação da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), o juiz de Leiria frisou que não se considera “deficiente”, apesar de a comunidade ouvinte o ver como tal, e admitiu que a surdez até pode ter vantagens no desempenho das suas funções.

A entrevista foi realizada com o árbitro da Associação de Futebol de Leiria, desde 2004, e divulgada no Dia Nacional da Educação de Surdos, que se assinala esta sexta-feira, dia 23 de abril.

“Eu creio que não somos totalmente recebidos, porque não somos vistos com capacidades iguais aos outros. No entanto, o público que está a ver não sabe se quem está lá dentro de campo é surdo ou ouvinte. Há uma concentração que o surdo tem dentro de jogo que, se calhar, o ouvinte não tem”, comentou Pedro Costa.

O árbitro confessou que “a nível desportivo”, sempre nutriu pelo futebol “uma paixão doentia”, motivo pelo qual acabou por integrar uma equipa de surdos no campeonato distrital de futsal daquela associação.

Daí até à arbitragem foi movido pela vontade de mostrar à comunidade ouvinte que “a credibilidade dentro do campo pode ser igual” para uma pessoa surda.

“Em termos técnicos”, a equipa de Pedro Costa “não tinha ninguém certificado”, o que levou o agora árbitro a tirar “o curso de treinador de futsal” e a tornar-se, também, no “primeiro treinador [surdo] de uma equipa da qual fazia parte”, destacou.

“Achei que, para além disso, teria de haver um árbitro surdo. Por um lado, para mostrar às pessoas ouvintes que a credibilidade dentro de campo pode ser igual. Por outro, por acreditar que a Associação de Futebol [de Leiria] me iria aceitar”, explicou o juiz.

Aos 43 anos, o árbitro que nasceu “surdo profundo” e numa “família com várias gerações de surdos” referiu que “a língua gestual sempre existiu enquanto criança e ao longo de toda a vida” e não escondeu, também, uma paixão muito grande pela arbitragem.

Um sentimento que lhe permitiu já apitar em algumas grandes competições internacionais, como os campeonatos do Mundo de futsal para surdos, o Europeu de Futebol de cinco para surdos, o Campeonato do Mundo de futebol para surdos, ou a Liga dos Campeões de futebol para surdos, conforme atestam os diplomas visíveis durante a entrevista em vídeo divulgada pela APAF.

“Para todos os árbitros que são apaixonados pela bola, pelo campo e pelo ambiente que se vive, sejam unidos, porque sem arbitragem não existe futebol. A arbitragem também é uma equipa. Espero que os milhões de árbitros possam também servir para esta riqueza que é a arbitragem”, concluiu Pedro Costa.

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