Pescadores de Peniche estão a usar um “papagaio de papel” para afugentar aves, que frequentemente morrem nas redes, um projeto que a Sociedade Portuguesa para o Estudo as Aves (SPEA) quer ver replicado em todo o país.
Ao projeto foi dado o nome de “papagaio afugentador”, porque funciona como um papagaio de papel mas que tem a forma de ave de rapina. Quando usado nas embarcações evita a aproximação de aves como alcatrazes, gaivotas, gansos-patolas ou pardelas.
O dispositivo, de acordo com a SPEA, evita que aves marinhas fiquem feridas ou que morram nas redes de emalhar.
Ana Almeida, técnica de conservação marinha da SPEA, explicou à agência Lusa que o papagaio fez parte de um projeto que agora terminou, ainda que os pescadores de Peniche envolvidos continuem a usar o dispositivo.
A responsável acrescentou que “a ideia é que mais pescadores possam adquirir os papagaios”, não apenas de Peniche, e adiantou que há financiamento para a compra por se tratar de “uma medida comprovadamente eficaz”.
De acordo com Ana Almeida o papagaio é constituído por uma vara telescópica, um fio ajustável e o papagaio feito num material resistente e que se mantém no ar mesmo com pouco vento. Simples mas eficaz, porque, disse, reduziu significativamente a morte de aves. As aves morrem ou ficam feridas quando mergulham para apanhar o peixe e ficam presas nas redes de pesca.
A SPEA, referiu, não recomenda o uso do papagaio durante todo o ano mas apenas em alturas em que há mais “problemas” com as aves, seja no outono e inverno quando se está a usar redes de emalhar, seja no verão no caso da pesca de palangre.
Além de Peniche estão a ser feitos testes entre Nazaré e Aveiro e no Algarve, disse Ana Almeida, de acordo com a qual o dispositivo foi em Peniche um grande sucesso.
A SPEA diz que o aprisionamento de aves nas redes é uma das principais ameaças às aves marinhas.
O papagaio resultou do projeto MedAves Pesca, financiado pelo programa operacional Mar2020 e coordenado pela SPEA. Segundo Ana Almeida foi de agrado dos pescadores, porque é fácil de usar, não afeta as capturas de pescado e reduz as capturas de aves, que quando acontecem são prejuízos também para os pescadores, seja por equipamento danificado, seja por perda de isco ou peixe, seja pelo tempo perdido a retirar as ave das redes, linhas ou anzóis.
De acordo com a SPEA são capturadas acidentalmente em cada ano, nas águas europeias, cerca de 200.000 aves marinhas.