Na semana em que começa mais uma edição do festival Novos Ventos, o Leirena Teatro comemorou dez anos de existência em Leiria. O diretor, Frédéric da Cruz Pires, diz que a companhia construiu “uma família teatral” e quer transformar-se em “acelerador cultural”.
Como foram estes dez anos de Leirena?
Têm sido dez anos de descoberta e de grande união. Nestes anos já tivemos vários profissionais e amigos que passaram pelo Leirena e todos eles ficaram connosco, mas aos dez anos a equipa está mais unida do que nunca. Quando falo de descoberta é nós todos, enquanto equipa, procurarmos novos projetos, únicos e singulares, e irmos cada vez mais longe no nosso raio de ação. Ao fim de dez anos já não estamos só em Leiria: estamos em Porto de Mós, em Pombal, em Ansião, em Figueiró dos Vinhos… Temos uma série de relações com municípios e com parceiros institucionais que se tornaram também nossos amigos. Nestes dez anos somos mesmo uma família teatral. E isso também implica uma responsabilidade civil, cultural, porque temos os nossos alunos, os nossos alunos, temos as digressões dos nossos espetáculos, que tentamos fazer com o máximo de profissionalismo e com toda a humildade.
Porquê a aposta na componente comunitária, que coloca pessoas a fazer teatro, como no festival Novos Ventos?
Essa é a nossa luta. Faz parte da génese da companhia: ter projetos de intervenção de teatro comunitário. Quando fazemos as nossas criações, há sempre um fundamento na comunidade. Seja uma produção original, seja um texto de autor, mas que a questão que levanta parte sempre de uma problemática comunitária.
Como foi a evolução da companhia?
São dez anos de muito trabalho, muita luta. Fizemos um grande investimento, investimento humano, em termos de profissionais. Hoje somos seis pessoas a tempo inteiro, dos quais quatro atores, além de outros profissionais que trabalham connosco pontualmente. É uma família bastante grande e orgulhamo-nos de tudo o que alcançámos. Mas há um sofrimento por trás: trabalhamos de segunda a segunda, mas é assim que as coisas funcionam e acontecem.
Qual o maior desafio para o futuro?
É encontrarmos um espaço para o Leirena. Quando mudámos para as Galerias Alcrima [no centro de Leiria], há quatro anos, a companhia cresceu 300%: nos projetos, na oferta… Isto é que faz o conforto. Uma companhia estando instalada num espaço tem a possibilidade de criar, tem a possibilidade até que outras pessoas e estruturas possam usufruir desse espaço. É por isso que tenho a meta, a curto, médio prazo, que a companhia funcione como um acelerador cultural na área das artes performativas. Para além das residências com as bolsas de criação, já há estruturas que, ao saber que temos alguns estúdios, perguntam-nos se podem vir aqui trabalhar e criar. Queremos permitir a outros a possibilidade de criar. Mas sabemos que não vamos ficar aqui eternamente e por isso temos de encontrar um espaço. Este espaço é maravilhoso, e muito temos de agradecer ao proprietário e sua família. Temos estado à procura de alternativas, mas não é fácil.