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Leiria

Lagar Velho em Leiria mostra comportamentos ancestrais de caçadores-recoletores

O local, situado no Vale do Lapedo, servia de abrigo para grupos de caçadores-recoletores que utilizavam o fogo.

As novas escavações que decorreram durante um mês no Abrigo do Lagar Velho, em Leiria, documentam vestígios de comportamentos ancestrais de diversas gerações de caçadores-recoletores paleolíticos, disse à agência Lusa a arqueóloga Ana Cristina Araújo.

Para a investigadora, as descobertas no Lagar Velho, no Vale do Lapedo, na freguesia de Santa Eufémia, em Leiria, “mostraram mais peças de um grande ‘puzzle’, que conta mais um pedaço da História de há cerca de 30 mil anos”.

Liderada por Ana Cristina Araújo, do Laboratório Arqueociência da Direção-Geral do Património Cultural, e por Joan Daura, da Universidade de Barcelona e primeiro responsável pelo projeto de investigação no qual se enquadram os trabalhos arqueológicos, a campanha evidenciou “descobertas espetaculares”.

“Não tem a ver com um novo fóssil ou com uma peça extraordinária, mas com comportamentos humanos que ficaram extremamente bem preservados no Lagar Velho e que raramente se encontram noutros sítios à escala europeia”, constatou a investigadora.

Na “base da grande superfície de ocupação”, onde os investigadores conseguiram chegar, estão preservadas “atividades do dia-a-dia e que normalmente não aparecem referenciadas porque o grau de preservação nos outros locais não é tão grande”.

O grau de preservação surpreendeu os arqueólogos, que acreditam ser resultado das “condições de sedimentação muito rápidas”.

“Estamos a lidar com um contexto em abrigo, que já por si é uma espécie de contentor que oferece melhores e maiores condições de preservação dos vestígios. Por outro lado, e adicionalmente, as condições de sedimentação foram muito rápidas, favorecendo a conservação em excelentes condições dos vestígios de atividades humanas que ali tiveram lugar. Daí a importância do sítio”, destacou Ana Cristina Araújo.

A investigadora adiantou ainda que o local indica a passagem de gerações de grupos de caçadores-recoletores paleolíticos, que se vão sucedendo ao “longo de vários milénios”, sendo possível “seguir esses episódios relacionados com as atividades humanas”.

Os arqueólogos perceberam ainda que o Lagar Velho era um local de abrigo para grupos de caçadores-recoletores que utilizavam o fogo. “Quando iam embora, apareciam os grandes carnívoros que comiam os restos deixados no local”, disse.

“Na base da grande superfície de ocupação vislumbra-se o princípio do que seria uma grande área de produção e utilização de fogo. Não é que nos outros sítios este tipo de vestígios não esteja presente, mas o seu grau de representação no Lagar Velho é muito grande”, acrescentou.

Vários estudos ainda estão a decorrer sobre os achados, pelo que há muita informação a revelar. “Vamos tendo informação sobre o clima e a vegetação que serviam de cenário àquelas populações que passavam pelo Lagar Velho e estamos a reconstituir esses vários momentos”, informou ainda.

“É engraçado como um sítio consegue encerrar tantas histórias e histórias tão diversificadas, histórias de vida e de morte. O próprio abrigo funcionou de forma distinta ao longo do tempo. Há uma espécie de uma gestão racional do espaço por parte dos caçadores paleolíticos que é fantástico de se observar”, rematou.

O “Menino do Lapedo” foi encontrado em 1998, no Abrigo do Lagar Velho, no vale do Lapedo, freguesia de Santa Eufémia, a cerca de dez quilómetros de Leiria.

O esqueleto tem cerca de 29 mil anos e constituiu um acontecimento marcante no seio da paleoantropologia internacional, por se tratar do primeiro enterramento Paleolítico escavado na Península Ibérica.

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