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João B. Serra

Chefe da Casa Civil do Presidente da República Jorge Sampaio; Professor jubilado do Politécnico de Leiria

Exclusivo

Jorge Sampaio em Leiria

Ele tinha uma noção muito aguda de que o seu trabalho tinha de ser muito metódico e por isso não poupava em exigência os seus assessores e consultores

Jorge Sampaio dedicou tempo e atenção política ao território. Preocupava-o as suas debilidades, a sua exposição a factores de risco, do mesmo modo que se aplicava em descortinar as suas capacidades e vantagens competitivas. Queria estimular a inovação e participar no combate contra o isolamento, o abandono e o desânimo. Percorreu incansavelmente o país, visitando cidades, inteirando-se das suas dificuldades e exortando os seus eleitos a planear as suas intervenções, a juntar esforços, ganhar escala e nunca desperdiçar recursos.

Acompanhei-o em inúmeras dessas visitas. Isso significava ter feito também uma duas visitas prévias, as chamadas “preparatórias”, para recolher informações pertinentes, ensaiar e testar os passos da deslocação presidencial, de modo que ela correspondesse ao padrão do presidente e fosse eficaz no controlo dos tempos. Ele tinha uma noção muito aguda de que o seu trabalho tinha de ser muito metódico e por isso não poupava em exigência os seus assessores e consultores. Antes de qualquer deslocação, dispunha de um dossiê sobre tudo o que ia poder observar, fosse empresa, organização ou aglomerado populacional, a sua situação e expectativas dos protagonistas e de um conjunto de fichas sobre aspectos que poderia sublinhar nas suas declarações. Essas fichas eram frequentemente actualizadas no decurso da própria visita.

Leiria foi uma das cidades que visitou por diversas ocasiões, interpelado e atraído ora pelas suas manifestações e instituições culturais, ora pelas suas empresas e empresários, ora pelas suas organizações administrativas e políticas, ora pelas suas escolas e dinâmicas sociais.

Além dos assessores e consultores, o Presidente também cultivava relações de proximidade com personalidades que conheciam bem o território, ou porque nele desenvolviam actividades de natureza profissional, ou porque o tinham estudado. No caso de Leiria, ele desenvolvera no passado laços de grande cumplicidade com protagonistas do direito e da política, como José Henriques Vareda, Henrique Neto ou Tomás Oliveira Dias e estava por isso familiarizado com algumas das percepções críticas sobre os desafios da cidade e região. Mas queria conhecer pessoalmente os novos protagonistas, de gerações mais recentes, vindos das empresas, do ensino e da academia, da experiência autárquica e das organizações sociais e culturais. Com alguns deles teve encontros pessoais, extra-agenda pública, através dos quais pode estabelecer laços de confiança recíproca e abrir canais de comunicação directa.

Correndo o risco de alguns esquecimentos imperdoáveis – este é um testemunho de memória, não apoiado em investigação de arquivo – recordaria o papel que tiveram na informação qualificada ao Presidente Jorge Sampaio, o seu mandatário distrital, o advogado Vítor Faria, cuja sobriedade e inteligência nunca deixou de admirar, o Prof. Carlos André, governador civil, cujos recursos de conhecimento e reflexão muito apreciava, os presidentes do NERLEI, com quem contactou directamente, Rui Filinto e José Ribeiro Vieira, o Presidente do Politécnico, Prof. Luciano Almeida, que representava uma instituição em crescente afirmação nacional, o Director do Orfeão, o médico Henrique Pinto que conhecera o seu pai, a Drª Isabel Damasceno, eleita para a Câmara Municipal em 1998, ou o bispo da diocese Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira.

Uma das primeiras visitas do Presidente foi exactamente a solicitação de D. Serafim, para assistir ao concerto inaugural do grande órgão da Sé Catedral, em Outubro de 1997.

Neste domínio da música, para o qual a sua propensão era proverbial, não regateou o seu patrocínio ao festival de Música em Leiria. Em Abril de 1997 inaugurou o novo edifício do Conservatório do Orfeão depois de visitar os trabalhos de restauro da Igreja de S. Francisco.

Mas a sua primeira deslocação a Leiria ocorreu um mês após a tomada de posse, ou seja em Abril de 1996, para se inteirar da mostra “Leiria 96 – Identidade & Desígnio” promovida pelo NERLEI.

Em Março de 1999 o dia internacional da Mulher que o Presidente fez questão de assinalar todos os anos do seu mandato, foi celebrado em Leiria.

A Leiria veio ainda inaugurar uma exposição comemorativa do centenário do pintor Lino António, em Dezembro de 1998, e, em Abril de 1999. a exposição de pintura “Abril 25” na Galeria 57. Finalmente, em Outubro de 2003, presidiu à abertura do ano lectivo do Politécnico.

Estas visitas são ilustrativas do espectro amplo dos interesse do Presidente Jorge Sampaio e da diversidade de temas e valores que lhe importavam no território leiriense.