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Cultura

S.A. Marionetas e Filarmonia das Beiras em palco para contar uma história… quixotesca

Nova coprodução estreia esta sexta-feira em Aveiro e sábado é apresentada em Leiria, no âmbito do festival Música em Leiria, e domingo em Alcobaça, integrado no festival Books & Movies.

Três manipuladores de marionetas, outros tantos cantores, 22 músicos e vários bonecos têm encontro marcado este fim de semana em palcos de Aveiro, Leiria e Alcobaça, onde vão contar uma história de final literalmente quixotesco. “El Retablo de maese Pedro” é uma ópera de marionetas do espanhol Manuel de Falla, estreada em 1923. Agora, ganha nova vida numa parceria entre os festivais Música em Leiria, Cistermúsica, de Alcobaça, e de Outono, em Aveiro, que regenera um espetáculo de ingredientes promissores.

Desde logo, a conjugação da ópera com marionetas, formato pouco usual que aqui surgirá com uma inovação: os bonecos vão contracenar com os cantores à frente da orquestra. Por outro lado, as marionetas criadas para esta produção são inspiradas no movimento dadaísta, contemporâneo da década de 20 do século passado, quando “El retablo de maese Pedro” foi apresentado pela primeira vez.

“Esta obra do Falla é bastante conhecida a nível mundial. Por isso, é sempre um desafio e nós lembrámo-nos de aplicar aos bonecos e a todo o dispositivo cénico elementos do movimento dadaísta. Como é contemporâneo da obra, fazia todo o sentido”, explica José Gil, da S.A. Marionetas, admitindo “grande gozo” por encontrar “uma estética completamente fora”: “As caras têm pormenores de quadros famosos: um olho de um, uma boca de outro, um nariz de outro…”.

Este é um regresso da companhia de Alcobaça a óperas com bonecos, depois de ter feito “O Judeu”, de António José da Silva, “onde só entram bonecos”. Neste espetáculo que estreia amanhã, em Aveiro, no Auditório da Reitoria da Universidade, os cantores contracenam com as marionetas e estão quase a par com os músicos da orquestra, com quem a S.A. Marionetas trabalha pela primeira vez.

António Vassalo Lourenço, maestro da Orquestra Filarmonia das Beiras, assume “expectativa grande” no resultado desta colaboração. “Criámos e pensámos este espetáculo com determinados objetivos, diferentes do nosso dia a dia”, enquanto orquestra clássica, justifica. Trabalhar com bonecos e com esta ópera em particular não é novidade para a Filarmonia. A primeira vez foi há duas décadas, com uma companhia de marionetas de Lisboa. Mas agora é “completamente diferente”: “A música não muda, mas a encenação não tem nada a ver”.

E qual a história de “El retablo de maese Pedro”? O maestro antecipa que é “um teatro dentro do teatro”, uma recriação do que poderia ser um teatro de marionetas medieval, dirigido pelo mestre Pedro. O registo é “trágico-cómico”, adensado pelo final quixotesco, quando a “realidade” vai ao encontro da “ficção”, por iniciativa do próprio D. Quixote, insatisfeito com o evoluir da ação.

Para facilitar o entendimento – a peça é cantada em castelhano -, no início há uma explicação sobre o contexto histórico, sobre o compositor Manuel de Falla, sobre a evolução da história e o papel da música em cada momento. “É uma componente pedagógica importante”, salienta António Vassalo Lourenço, porque auxilia o público a mergulhar totalmente no que acontece em palco.

Depois da estreia esta sexta-feira em Aveiro, “El retablo de maese Pedro” é apresentado no sábado, dia 6, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, às 21h30 (entrada livre). No dia seguinte, domingo, a apresentação é no Cine-Teatro de Alcobaça, às 18 horas (bilhetes: 5 euros).

Dom Gaifeiros e Melisendra, dois dos bonecos de inspiração dadaísta criados para o espetáculo por Natacha Costa Pereira, da S.A. Marionetas
Foto: S.A. Marionetas

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