A interpretação das pedras de Ansião, Figueiró dos Vinhos e Pombal, no distrito de Leiria, ganha múltiplas dimensões a partir de sábado, com a inauguração da exposição imaginada pela Binaural Nodar a partir de sons recolhidos localmente.
O Complexo Monumental de Santiago da Guarda, em Ansião, recebe o primeiro momento de “O cantar da pedra”, que nasce do trabalho de campo realizado nas três residências artísticas que a associação desenvolveu naqueles concelhos, entre junho e setembro, a convite do projeto “Territórios de Pedra”.
Durante o verão, a equipa da Binaural Nodar recolheu entrevistas, paisagens sonoras e protagonizou intervenções acústicas na própria pedra. Desses registos surge um arquivo digital online com 60 entradas – 20 por município – que é partilhado também na exposição, onde se ergue ainda uma instalação sonora da autoria de Luís Costa e João Farelo, uma intervenção plástica de Mónica Garcia e um conjunto de painéis desenhados por Liliana Silva. No mapeamento sonoro participou também Nely Ferreira.
“Queremos transmitir como uma temática aparentemente simples de ser definida, como a pedra, pode ter uma multiplicidade de camadas de compreensão e discussão. Esse é o ponto fundamental deste projeto”, explicou à agência Lusa Luís Costa, diretor artístico do projeto que explora as dimensões etnográfica, económica, artística e, claro, geológica desta matéria-prima.
“O cantar da pedra” vai buscar o nome às capacidades de pedreiros e canteiros, que “conhecem a pedra pelo seu ‘cantar’” consoante “o som que emana dela em função do sítio onde se bate”, contou Luís Costa.
Por estas geografias, a pedra que mais canta é o calcário da serra do Sicó, “mas na zona de Figueiró dos Vinhos o xisto começa também a aparecer”.
Entre municípios vizinhos, a Binaural Nodar detetou diferenças entre Pombal, “um concelho grande que tem uma ponta que chega ao oceano”, que se liga pelo Sicó a Ansião, “onde começam a entrar os moinhos de vento, que também têm pedras nas mós e que rodam”, até chegar a Figueiró dos Vinhos, cuja paisagem “não é tão suave”, marcada por “muita água ligada às pedras e as fragas”.
“A nível sociológico há também muitas diferenças”, nota o diretor artístico, e os registos de “O cantar da pedra” refletem um “Pombal densamente povoado, com empresas de brita, camiões e muitos trabalhadores”, enquanto, por exemplo, ao invés, “o concelho de Figueiró tem uma população mais reduzida e dispersa, com muitos estrangeiros e casas renovadas”.
Para Luís Costa, a exposição e o arquivo digital online trazem uma “multiplicidade de formas de entender e compreender, quer a memória, quer os aspetos sensíveis deste território, a partir desta temática”: a pedra.
Depois do Complexo Monumental de Santiago da Guarda no sábado, “O cantar da pedra” estará no Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos entre 26 de novembro e 7 de dezembro. Entre 10 e 27 de dezembro, o projeto é apresentado na galeria do Teatro-Cine de Pombal. A partir de 12 de novembro os 60 registos ficam acessíveis online em www.cantardapedra.org.