Em abril de 2014, Rui Daniel Silva e Manuel Lemos, ambos professores de música em Leiria, decidiram percorrer Dakar a Bissau de bicicleta, em duas semanas.
Sete anos depois, a aventura é contada em livro de prosa, lançado apenas agora devido a alguns obstáculos, nomeadamente a pandemia, explica Rui Daniel.
A ideia para a aventura, conta Rui Daniel Silva, surgiu numa outra viagem, em Istambul, na qual conheceu um francês que estava a fazer uma viagem de bicicleta de Paris a Tibete. “Aquilo despertou-me muito interesse e fiquei com curiosidade para conhecer a África Subsariana”, explica.
Em “Dakar a Bissau de bicicleta”, o professor de música partilha histórias engraçadas, mas também os aspetos negativos da viagem, como vários furos e a dificuldade em encontrar água e comida nos primeiros dias, que foi “o mais difícil” do percurso, conta.
Mas os aspetos positivos superam os percalços. Entre eles, estão as vantagens de poder “parar quando e onde queremos” e, sobretudo, a “imaginação descomunal” e a hospitalidade daquele povo, frisa Rui Daniel. “Nesta viagem, nunca pagámos dormida. Muitas vezes não havia pousadas nos locais e as pessoas abriam-nos as portas, dando-nos um quarto, a casa ou deixando-nos acampar, quando não havia outra hipótese”, conta.
No Senegal, a dupla teve a oportunidade de acampar com uma tribo, porque não encontraram outra opção de alojamento. “Foi espetacular”, diz. Já na Guiné-Bissau, acamparam num restaurante, pelos mesmos motivos.
Outro aspeto retratado no livro é a forma de comunicar, que “por vezes era difícil”, refere. “A maior parte deles não fala nada. O que fazíamos era gestos com as mãos, que é muitas vezes uma linguagem universal. Quando era para perguntar pelo nome das próximas terras, dizíamos o nome das terras e eles apontavam”, explica.
Segundo o autor, os entraves linguísticos acabaram por dar origem a momentos engraçados, como por exemplo no Senegal, onde achava que ia comer frango guisado, mas era morcego. “Tive de cortar aquilo aos bocadinhos, meter no pão e comer, porque sabia que não havia mais nada”, conta.
Depois de viajar por mais de 146 países, Rui não hesita em dizer que esta foi “provavelmente, das viagens que mais gostei, porque não conhecia e não estava à espera. Percebi que as pessoas estão sempre ali para nos ajudar”. E esta característica do povo, que tanto apaixonou o viajante, é bastante retratada na obra, que pretende também desmistificar ideias pré-concebidas. “Às vezes temos uma imagem do mundo, por causa das notícias, que não corresponde à realidade”, lamenta.
O valor da superação, a gentileza, a importância da gratidão, o significado de um abraço e o real valor da amizade encontram-se igualmente espelhados nesta obra.
Publicado em edição de autor, “Dakar a Bissau de bicicleta” pode ser adquirido através das páginas de Facebook e Instagram do autor.