David Ângelo, médico natural de Porto de Mós, vai ser o primeiro estomatologista português a pertencer ao grupo restrito de médicos da Sociedade Americana de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular (American Society of Temporomandibular Joint Surgeons – ASTMJS).
O diretor clínico do Instituto Português da Face tem realizado vários trabalhos científicos na área da Articulação Temporomandibular (ATM) e o seu trabalho tem sido reconhecido em todo o mundo.
A disfunção da articulação temporomandibular ” é uma patologia incapacitante dos músculos da mastigação e/ou da articulação temporomandibular (área onde a mandíbula se articula com o osso do crânio), mais comum em mulheres entre os 20 e os 50 anos de idade. Para além de dores intensas no maxilar e na face, a disfunção pode comprometer a mastigação dos alimentos, bloquear a articulação e/ou limitar a abertura da boca, em alguns doentes de forma severa”, explica o comunicado enviado à nossa redação.
O convite para a Sociedade Americana surgiu depois do estomatologista ter sido referenciado por um médico norte-americano e por dois cirurgiões espanhóis que pertencem a esta sociedade.
O conselho científico de médicos especialistas da sociedade americana de cirurgiões da ATM, após uma avaliação ao seu percurso académico e profissional, aos artigos de investigação e às técnicas cirúrgicas aplicadas, “reconheceu e elogiou o contributo científico” que David Ângelo tem dado para a área da ATM, nomeadamente “sobre a regeneração do disco articular, técnicas cirúrgicas minimamente invasivas e um protocolo único a nível mundial de recuperação pós-operatória destes doentes”.
“Pertencer à sociedade americana de cirurgiões da ATM significa passar a poder discutir diretamente os casos clínicos mais complexos com cirurgiões reconhecidos internacionalmente, todos eles com longos anos de experiência no tratamento da disfunção da ATM”, afirma, em comunicado, David Ângelo, que é igualmente diretor clínico do Instituto Português da Face.
“A partilha de conhecimento é a uma mais-valia da medicina: aliás, conheci os médicos que me referenciaram para a sociedade americana em fóruns internacionais de discussões clínicas e em cirurgias conjuntas. Um deles conheci-o ainda antes da pandemia, numa operação complexa realizada no The Wellington Hospital, em Londres”, explica o único português a pertencer à Sociedade Europeia de Cirurgiões da ATM.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, David Ângelo vai apresentar um artigo original, sobre o processo de recuperação da mastigação nos primeiros 30 dias após a cirurgia da articulação temporomandibular, no encontro deste ano da ASTMJS, que se realiza em San Diego, Califórnia (EUA), entre 3 e 5 de março.
O estomatologista criou um protocolo de tratamento único a nível mundial, o qual permite uma recuperação mais rápida dos pacientes com disfunção da ATM e resultados mais duradouros. O protocolo é essencialmente composto por três sequências: a preparação pré-cirúrgica; o tratamento cirúrgico da disfunção da ATM; e o acompanhamento pós-operatório híbrido com exercícios de fisioterapia, terapia da fala e recuperação gradual da função mastigatória.
“O protocolo de recuperação foi um dos meus projetos mais elogiados na entrevista de dezembro com os especialistas da sociedade americana da ATM. Para além dos artigos científicos, apresentei mais de 500 cirurgias que realizei – artrocenteses, artroscopias, cirurgias abertas e próteses de ATM – com dois anos de acompanhamento comprovado”, afirma David Ângelo.
Em 2020, o médico portomosense já tinha sido notícia quando revelou que concebeu a plataforma EuroTMJ, para registo de diagnósticos, intervenções e evoluções pós-operatórias de doentes no espaço europeu. David Ângelo obteve financiamento da Sociedade Europeia de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular para conceber uma plataforma informática que regista os diagnósticos, intervenções e evoluções pós-operatórias de uma forma rigorosa e de fácil consulta e utilização pelos médicos em toda a Europa.
“A plataforma está a crescer e, no futuro, à medida que forem sendo registados os dados de mais doentes, será cada vez mais útil para auxiliar a decisão dos médicos”, afirma David Ângelo. “Nesta fase estamos a criar um algoritmo inteligente de apoio à decisão clínica, com base nos sintomas de cada paciente introduzidos na base de dados”, explica o clínico.
David Ângelo tem 36 anos e é desde 2016 investigador no Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado de Produto (CDRSP), do Politécnico de Leiria, e pertence à Sociedade Europeia de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular, desde a mesma data, tornando-se também aqui no primeiro médico português a integrar esta sociedade. Desenvolveu também atividade na Clínica das Olhalvas (Leiria) e na Policlínica Central da Benedita, ambas pertencentes ao Grupo H Saúde.