Antologia do Improviso: All Night Long

Venceu outra véspera do “Dia dos Namorados”, mantendo um nível de funcionalidade razoável.

Movido pelo frenesim quente e interminável, agitou-se numa rota de 360°. Cúmplice, a almofada seguiu-lhe as ânsias e, em segundos, visitou cada átomo daquela cama, outrora um leito prodigioso. Primeiro, despiu as calças, logo a seguir, tirou as meias e a parte de cima. Ligou uma aplicação de sons hipnotizantes e imaginou padrões psicadélicos. Vieram-lhe à cabeça os gelados comidos em criança, uma culpa que o atormenta. Persistiu nas memórias da única vez em que o pai lhe lançou uma bola. “Mãos de sapo, tens uma inaptidão absurda nessas mãos”. Fim. “Um dia, os pensamentos serão desligados por bluetooth e as noites serão um lugar melhor”, repetiu com força e fez daquilo mantra.