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SOS Ucrânia

Soldados da paz partem em missão para entregar bens e resgatar refugiados

Três carrinhas partiram esta tarde carregadas de mantimentos para trazerem cerca de 20 ucranianos para Leiria.

Elementos dos Bombeiros Voluntários da Maceira, de Leiria e Ortigosa e Bombeiros Sapadores de Leiria partiram esta tarde com dois voluntários para a fronteira da Hungria com a Ucrânia Joaquim Dâmaso

São os “soldados da paz” do concelho e partiram hoje naquela que pode ser a missão mais importante das suas vidas, que certamente ficará na história e na memória de cada um.

Quatro bombeiros – das corporações dos Bombeiros Voluntários de Leiria, da Ortigosa, da Maceira e um elemento dos Bombeiros Sapadores de Leiria – acompanhados por uma médica e dois voluntários, um deles ucraniano, não hesitaram em abraçar esta viagem de mais de 30 horas rumo à fronteira da Ucrânia com a Hungria.

Afinal, “é parte da nossa missão, além da questão do socorro diário, do incêndio, da emergência médica, este tipo de ação que se encaixa perfeitamente no âmbito da Proteção Civil”, sublinhou Miguel Novais, comandante dos Bombeiros Voluntários de Leiria.

Apesar de nunca ter feito uma missão deste âmbito, em “ambiente de guerra”, Miguel Novais contou que os elementos da corporação vão “de mente aberta, sabendo que podemos encontrar sofrimento, pessoas angustiadas”.

“Estamos dispostos a ir lá para lhes dar um abraço, a atenção que precisam e dizer que estamos aqui para cuidar deles, de braços abertos, até o conflito acalmar”, acrescentou, minutos antes da partida.

Com esta equipa vai também Inês Vieira, médica da mesma corporação, que já há muito se queria juntar à causa e ajudar o povo ucraniano, em campos de refugiados. “Fartei-me de mandar emails para a Cruz Vermelha, para os Médicos Sem Fronteiras…”, contou ao REGIÃO DE LEIRIA.

Três horas antes de chegar ao estádio esta tarde, o telefone tocou com o convite para se juntar à comitiva. “Só tive tempo de ir tomar banho a casa, porque não sei quando vou voltar a tomar banho, pôr coisas de higiene na mochila e estou aqui”.

Para a médica, esta viagem “é um verdadeiro desafio”, mas acima de tudo “uma honra”. “Aqui faço falta, mas lá faço ainda mais. Posso contribuir com o meu saber em prol da humanidade”, frisou.

Em relação ao que pode encontrar na chegada ao destino, disse ter um pouco “de medo” e por isso mesmo é que se ofereceu para ir, considerando fundamental a avaliação médica no local para “trazer as crianças em segurança, com o mínimo de saúde”.

Maksym Fedin, ucraniano radicado em Monte Real, juntou-se à causa para ir buscar a família que está em Donetsk Foto: Joaquim Dâmaso

Numa das carrinhas, em conjunto com Fernando Fernandes, dos Bombeiros Sapadores de Leiria, seguiu ao volante Maksym Fedin. O cidadão ucraniano, a viver em Monte Real há cerca de dois anos, não escondeu o sorriso no rosto provocado pelo facto de poder ir buscar a sua família: a mãe, a cunhada e a sobrinha de dois anos, que estão em Donetsk, perto da fronteira com a Rússia.

Motorista de profissão, referiu que o tempo de viagem não o assusta. A vontade de ajudar e de reaver a família é o mais importante neste momento.

Para Luís Lopes, vereador da Câmara de Leiria com o pelouro da Proteção Civil, fazia “todo o sentido” serem os bombeiros a encetar esta missão: “Eles são as primeiras pessoas a estarem treinadas para este tipo de missões, quer seja dentro e fora do país”, realçou, enaltecendo a vantagem da “capacidade de organização e visão global e humanista que eles têm para acolher as pessoas, alguma necessidade até de aplicação de primeiros socorros”.

Além disso, completou, “o facto de terem formação e reconhecimento dos cenários que vão apanhar acaba por ser muito importante para nos darem este feedback para as próximas comitivas que tivermos de enviar para ir buscar mais refugiados, levar mais mantimentos ou até apoiar numa missão humanitária em campos de refugiados”.

Oito toneladas de mantimentos

No total, as três carrinhas levam aproximadamente oito toneladas de mantimentos, entre medicamentos, artigos de higiene e material para distribuir pelos corpos de bombeiros ucranianos. Os últimos artigos foram angariados pelas corporações locais, que seguem nesta viagem, na sequência de um repto lançado pela Liga dos Bombeiros Portugueses.

No regresso, estes três veículos e os dois que partiram esta manhã, vão trazer cerca de 20 refugiados ucranianos, maioritariamente mulheres e crianças, adiantou Luís Lopes.

Trata-se de pessoas já previamente sinalizadas e que serão acolhidas em Leiria, essencialmente na casa de familiares.

Segundo o vereador, esta é “uma comitiva mais pequena, porque foi o número de pessoas referenciadas pela comunidade ucraniana aqui em Leiria”.

Para a próxima semana, o Município tem já “referenciado um autocarro de 50 lugares ” e “mais carrinhas, se preciso”. A decisão do envio, quer de transporte para trazer pessoas e de camiões com bens, esclareceu, está sempre sujeita às necessidade de então do povo ucraniano. “É um processo de logística complexo (…) Estamos a enviar aquilo que nos estão a pedir onde efetivamente temos contacto”.

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