Várias empresas do sector da cerâmica do concelho de Porto de Mós estão a planear parar a produção até ao início da próxima semana, deixando sem trabalho cerca de um décimo da população ativa do concelho. O significativo aumento do preço do gás estará na origem do problema.
O alerta foi deixado ontem por Jorge Vala, presidente da Câmara local, em reunião do executivo.
Referindo-se à “situação preocupante” com o aumento dos custos de energia, o autarca revelou ter reunido esta semana com vários empresários do sector da cerâmica – um dos mais relevantes do concelho -, tendo recebido a indicação de que a subida no preço do gás obrigará à suspensão da atividade.
“Estas empresas, em reunião que tive com alguns destes empresários esta semana, preveem, no limite no início da próxima semana, encerrar”, adiantou Jorge Vala.
No total, pelas contas do autarca, as várias empresas em causa empregam cerca de 1.500 pessoas, o que constitui aproximadamente um décimo da população ativa do concelho.
O presidente da Câmara de Porto de Mós ilustrou a dimensão do problema com o exemplo dos custos da fatura de gás de uma das empresas afetadas e, que, em quatro meses, subiu de forma vertiginosa.
“Uma empresa que em dezembro pagou 69 mil euros de gás, em janeiro pagou 277 mil euros, em fevereiro pagou 640 mil euros e em março prevê pagar 926 mil euros”, exemplificou.
No caso concreto desta empresa, que não identificou, Jorge Vala explica que os 926 mil euros ultrapassam o valor de faturação da empresa.
“Temos vivido, até agora, num cenário de falta de mão de obra com alguma dimensão, ao ponto de a maioria dos grandes empregadores do concelho estarem a contratar em empresas de trabalho temporário”, salientou, adiantando que “neste momento a situação pode inverter-se”.
O novo contexto no mercado laboral que até aqui era deficitário em mão de obra, “complicará muito a missão de receber e de integrar profissionalmente aqueles que vêm”, adiantou Jorge Vala, reportando-se aos refugiados ucranianos que o concelho está a receber e cujo acolhimento está ser coordenado por uma unidade de missão, criada pela autarquia.
Para já, referiu o autarca, as empresas afetadas deverão avançar “num primeiro momento para, eventualmente, layoff”, ou seja, a redução temporária dos períodos normais de trabalho ou suspensão dos contratos de trabalho efetuada por iniciativa das empresas.
Todavia, Jorge Vala deixou em aberto a possibilidade de a situação se agravar, caso não exista “alteração aos custos astronómicos da energia”.