Quem me conhece sabe que gosto de desafios e de ajudar. Juntando estes dois gostos resolvi acolher refugiados ucranianos na minha casa, para mostrar a mim e aos do meu mundo que não podemos ficar indiferentes.
Pois a mim distribuíram-me duas senhoras na casa dos cinquenta, muito afáveis e simpáticas mas que não dizem uma palavra em português. Mentira, dizem obrigada senhora a toda a hora. Não choram, não se queixam, só agradecem.
Ontem quando chegava a casa vinda do hospital depois de um dia pesado, cheio de confusão foi uma alegria sentar-me à mesa a jantar com as minhas meninas e ouvir as novidades do dia delas, debitadas pelo Google tradutor. Tinham ido à escola e já sabiam contar até 10. Eu deveria também já saber contar até 10 em ucraniano, mas só sei dizer três que é quase a mesma coisa que em português. Nesta partilha de vidas e experiências linguísticas temos momentos hilariantes e momentos tensos. Um deles foi terem-me mostrado as fotografias das suas casas sem a certeza de que as vão voltar a ver. É óbvio que já me convidaram para suas casas que a esperança é coisa que não pode faltar nestes momentos. Uma delas perguntou se eu podia arranjar comprimidos para dormir e apenas nesse momento abriu um olhar de preocupação e de tensão. Começar tudo depois dos 50 deve ainda ser mais terrível, mas elas são estoicas e apenas procuram trabalho para sobreviver. Estão focadas nisso e assim é que deve ser. Quando pergunto pelas notícias de lá, ficam sempre com os semblantes carregados e por momentos penso que vão desabar. Mas não, a conversa continua a fluir entre costumes, religião e memórias que contam as histórias das nossas vidas.
Já temos em casa canais ucranianos e já temos preparada a ementa para a Páscoa. Podem achar que estou a ser generosa mas não. Estou a aprender com elas mais do que alguma vez irei ensinar-lhes. Ah e finalmente já sei dizer batatas em ucraniano (kartoplya).
Obrigada Maiia e obrigada Liuddmyla. Obrigada senhoras.