A Urgência Geral do Hospital de Santo André, em Leiria, registou “limitações no seu acesso, verificadas na área médica, em períodos restritos e contidos”, admitiu à agência Lusa o conselho de administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL).
“O Serviço de Urgência Geral apresentou períodos com dificuldades em que, devido à sobrelotação de doentes e diminuição de recursos humanos, teve limitações no seu acesso, verificadas na área médica, em períodos restritos e contidos”, referiu o CHL, em resposta escrita enviada à agência Lusa.
Na quinta-feira, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) revelou que a Urgência Geral e a Área Dedicada a Doentes Respiratórios do hospital de Leiria esteve sem resposta 42 períodos este ano. Um período corresponde a um turno de 12 horas.
Numa nota de imprensa enviada à agência Lusa com o título “Urgências no Hospital de Santo André (Leiria) já ‘fecharam’ 42 vezes este ano”, a SRCOM especificou que foram 12 períodos em abril, oito em março, sete em fevereiro e 15 em janeiro, ressalvando que, “nalguns destes períodos críticos, têm sido asseguradas, entre outras, as respostas em ortopedia, pediatria, ginecologia/obstetrícia e cirurgia”.
Na resposta, o CHL, que integra os hospitais de Leiria, Pombal e Alcobaça, explicou que “nestes momentos específicos foram reencaminhados doentes para outros centros hospitalares, tal como acontece noutras alturas o CHL receber doentes de outras unidades hospitalares, dado que os hospitais do SNS [Serviço Nacional de Saúde] funcionam em rede”.
“Os doentes que se dirigiram ao Serviço de Urgência Geral por iniciativa própria foram sempre observados e atendidos”, assegurou o CHL, garantindo, por outro lado, que “manteve sempre atenção com o trauma, a Via Verde Coronária e todos os quadros que obrigavam o atendimento emergente, desde ortopedia, cirurgia, pediatria ou ginecologia”.
O CHL acrescentou que se encontra “num processo de contratação de mais especialistas e de alteração de escalas, com reformulação de fluxos de observação”, assinalando que a reestruturação em curso “já está a ter resultados, estando a situação mais estabilizada nesta fase”.
O presidente da SRCOM, Carlos Cortes, destacou que o encerramento da Urgência Geral tem vindo a verificar-se, repetidamente, mas agora “com consequências catastróficas”, dado que está a ser prejudicada a resposta da Via Verde Acidente Vascular Cerebral.
De acordo com o dirigente, “a emergência pré-hospitalar está, devido a este grave problema, a ter enormes limitações com consequências imprevisíveis”, observando ainda que, enquanto se efetuam as transferências de doentes para as Urgências do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra ou outra unidade, os meios de emergência médica de Leiria ficam com a resposta comprometida em tempo útil face às solicitações da sua área de abrangência.
Considerando que se está “perante uma situação de calamidade por falta de recursos humanos e de exaustão extrema dos profissionais do hospital”, o presidente da SRCOM afirmou não ser admissível “o esforço quase sobre-humano desenvolvido pelo hospital sem que o Ministério da Saúde dê qualquer sinal para tentar ajudar a resolver a situação”.
Hoje, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) também classificou de “catástrofe” a situação que enfrenta o Serviço de Urgência do Hospital de Santo André, “seja médica, cirúrgica ou ortopédica”.
“As dificuldades em preencher as escalas de urgência, de acordo com as normas estabelecidas, têm condicionado, com frequência, o encerramento de valências do Serviço de Urgência”, referiu o SIM, numa nota enviada à Lusa.
Segundo a informação, “a dispersão de recursos entre os três polos do CHL, os erros na gestão com desrespeito aos seus profissionais, dos direitos que legalmente lhes estão estabelecidos (como por exemplo folgas, descansos compensatórios e direitos parentais), estão na base do progressivo abandono de médicos do CHL e da degradação dos cuidados por este prestados”.
A isto soma-se o “crescimento desmesurado” do CHL, com a integração das unidades de Pombal e Alcobaça, e o “alargamento da sua área de influência ao eixo Ourém-Fátima”, a que “não correspondeu o adequado ajuste dos quadros de pessoal”.
O sindicato, por isso, sugeriu a revisão das “fusões hospitalares, pelo menos naqueles locais onde mostraram ser nefastas ao interesse público”.