Natacha Kravets, sorridente, atravessa-se entre a multidão de políticos, autarcas e outras entidades mais ou menos locais, que marcaram presença na inauguração das ressuscitadas “tasquinhas” da Batalha, esta quarta-feira.
Sobressai o azul e amarelo ao peito e a simpatia com que oferece um bolo servido com sal. A especialidade chama-se Korovai e é algo que se oferece a dignatários, explica.
A FIABA – Feira de Artesanato e Gastronomia da Batalha está de regresso, depois de dois anos de paragem forçada provocada pela pandemia. A trigésima edição do evento, volta com os pratos fortes de sempre, ainda que recheada com algumas novidades.
É que nestes dois anos de intervalo, o mundo mudou. Por isso mesmo, há novos pratos no menu. E quem os traz ao certame é uma tasquinha decorada com o azul e amarelo que invadiu as aflições ocidentais perante os apetites russos.
“O Korovai é um bolo tradicional que se serve quando se recebe pessoas, pessoas que nos ajudaram, recebemos com paz, amor e carinho”, explicita Natacha Kravetz, elemento da comunidade ucraniana da Batalha e que este ano se estreia no certame.
Vieram elementos da comunidade de vários pontos para ajudar: “temos pessoas que moram da Batalha e não só, de Leiria e Fátima, por exemplo”.
Por ali servem-se vários pratos e simpatia q.b.. A comunidade mobilizou-se para garantir que a Ucrânia está representada, que a sua comunidade agradece o apoio e que, não menos relevante, angaria fundos para os combatentes que, na terra natal, enfrentam as forças russas.
“Temos uma situação muito complicada no nosso país, escrevemos ao senhor Presidente da Câmara da Batalha e ele aceitou [a participação no certame] e queremos angariar dinheiro para enviar para os combatentes na Ucrânia”, refere Natacha Kravets, membro da comunidade ucraniana da Batalha.
Por ali, Borsch, (uma sopa com beterraba), Chachelik (espetada de porco grelhada) e Vareniki (massa recheada com batata a cogumelo) são algumas das especialidades da gastronomia ucraniana disponíveis. A descrição neste artigo é sintética, mas da “tasquinha” azul e amarela, asseguram que a degustação paciente é uma experiência a não perder.
E, na prática, quem optar pela tasquinha azul e amarela, instalada na tenda da esquerda no sentido de quem entra no recinto, acaba por escolher um lado no conflito que impediu que a normalidade se instalasse no quotidiano pós-pandémico ocidental, e ajudar os combatentes ucranianos.
Na música, o palco – com Quim Barreiros, que atua esta quinta-feira como prato mais picante no cardápio – continua a ser foco de atenções. Todavia, e porque o recinto do certamente migrou ligeiramente, os artistas atuam em local diferente de edições passadas.
Ao adotar o novo parque de eventos para a realização da FIABA, a disposição do palco mudou, bem como as tasquinhas que agora estão abrigadas em duas grandes tendas que as protegem dos elementos, ainda que, de quando em vez, também acumulem algum fumo, como se podia ouvir comentar entre quem por lá estava.
O artesanato, por sua vez, continua a ser uma das traves-mestras do evento. Há quem venha de longe desde sempre e quem seja da terra e não falte. Perdura a possibilidade de assistir, ao vivo, a quem perpétua artes.
É o caso de José Santana Marques, conhecido como “Zé Latas”. Latoeiro, dos raros que persistem, só faltou a uma das 30 “Fiabas” que já aconteceram. É da Jardoeira, a um par de quilómetros da vila da Batalha, e continua a mostrar a arte que se vê desaparecer com os anos. “Vale sempre a pena representar um mister em vias de extinção”, diz perentório.
Chegou a ensiná-lo nas escolas. Alguns aprenderam, mas quem lhe siga as pegadas, parece ser uma impossibilidade. Sorri quando se lhe sugere ser embaixador da latoaria na região, enquanto molda uma peça. Mais uma das milhares que já produziu na vida. A feira é oportunidade para mostrar uma arte em desuso e vender algumas peças. E, admite-se, também para ouvir a piada cansada e que deixa claro que aquele é um artesão com “muita lata”. Adiante.
Fernanda Canelas, de Castelo de Vide, tem queijos de Nisa à venda na banca de sempre. Não lhe falta queijo é certo, mas não se esquece de assegurar presença na Batalha. Esta é a sua trigésima Fiaba. Não falhou nenhuma até aqui. Gaba-lhe as condições e a possibilidade de fazer negócio. Para trás ficaram dois anos em que o Covid impediu certames. Foram momentos difíceis, confessa, mas ultrapassados.
O negócio é vertente importante destes eventos, salientou igualmente Carlos Miguel, secretário de Estado Secretário de Estado das Autarquias Locais que, no final de tarde desta quarta-feira, inaugurou a FIABA. Mas mais importante, frisou, é a possibilidade de, após a pandemia, poder encontrar os amigos neste tipo de eventos. Ir à feira, nestes tempos de regresso é, explicou, “uma alegria”.
Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, estava também feliz com a forma como o regresso à normalidade se está a conjugar na região. Resgatou dados divulgados pelo INE e que apontam que o Centro está já, a nível turístico, a ultrapassar os valores de março e abril de 2019, os últimos meses antes da travagem pandémica. São valores que parecem apontar para uma trajetória generosa no turismo.
O regresso da Fiaba foi marcado por outro retorno. Raul Castro, que no arranque dos anos 90 do século passado liderou a autarquia da Batalha, está de volta à presidência e liderou a inauguração da feira que dita que os tempos de festa voltaram. O autarca da Batalha, no discurso de inauguração, frisou o agradecimento a todos quantos se envolveram no certame. E pediu um milagre: que a chuva que se mostrou grossa momentos antes de começar a cerimónia, permanecesse cinco dias afastada do recinto, até que a Fiaba terminasse.
Raul Castro terá porventura, pedido demasiado, pois as previsões de precipitação para os próximos dias são uma realidade, ainda que apenas para quinta e sábado. Quem sabe, a meteorologia poderá fazer-lhe a vontade.
Com cerca de seis dezenas de expositores, a feira aposta em Quim Barreiros, Elsa Gomes & Banda, Banda Kroll, Miguel Bravo, Catraia ou os AHKORDA, banda originária de São Mamede, Batalha, para a animação. No sábado, 18 de Junho, acontece ainda o Encontro de Concertinas e Harmónios da Alta Estremadura.
A gastronomia é assegurada pelas coletividades do concelho e o artesanato é proveniente de vários pontos do país. A trigésima Fiaba, arrancou esta quarta-feira e prolonga-se até domingo, na Batalha.