Quem passou pelo antigo Banco de Portugal nas últimas semanas provavelmente já reparou em Luiz Martins, que trabalha no pátio, de portas abertas. Ali, prepara a próxima grande exposição do Banco das Artes Galeria (BAG), “Quase uma vida”.
Depois da Áustria, Lituânia, Japão, Polónia, Brasil ou, em Portugal, o Museu de História Natural e Ciências, é em Leiria que o artista plástico brasileiro vai expor, a partir de 18 de setembro. Até dia 2 do próximo mês é possível entrar no pátio (das 14h30 às 17 horas), acompanhar os trabalhos e conversar com Luiz.
“É a primeira vez que faço isto”, conta o artista que, apesar da timidez revelada pelos portugueses que passam à sua porta, tem apreciado a interação, um exercício que enriquece o trabalho em curso: “Estar aqui em contacto com outra cultura me faz ver novas possibilidades, novos caminhos”, sublinha.
“Estou aqui há um mês e tem sido muito giro. É uma experiência nova, preparar uma exposição tendo o público como espectador antes da abertura”. Alguns entram, muitos olham, poucos perguntam. Mas “existe um diálogo de construção e o meu trabalho gira em torno disso, de questões do ser humano, do homem, e todos os seus aspetos enquanto ser humano”, explica.
Tudo começou em 2019: Luiz Martins interveio no #Project Room do BAG com “O tempo que resta” e foi convidado para desenvolver uma exposição maior. Aceitou, mas a pandemia obrigou a protelar o projeto até agora.
Nesta reta final até à conclusão da exposição, o artista admite estar “extremamente ansioso e nervoso” com o aproximar da inauguração do projeto, que reúne três séries do seu trabalho, a apresentar nos vários espaços do BAG, com uma performance do próprio e de Inesa Markava no dia da abertura.
Para “Quase uma vida”, Luiz Martins trabalha símbolos primitivos rupestres brasileiros – recolhidos em sítios arqueológicos como a Pedra do Hingá, em Paraíba, ou São Raimundo Nonato, no Piauí -, sobrepondo-os a páginas de jornais ou dicionários.
“Estou trabalhando questões relacionadas com a intolerância – intolerância racial, intolerância religiosa, com abordagem a partir das grandes guerras”. É o eixo central da abordagem da exposição que contará com 40 composições, mais de uma centena de obras de pintura, escultura e desenho.
Com curadoria de Maria de Fátima Lambert, “Quase uma vida” será um convite ao pensamento e à pesquisa do público:
“Claro que seria audácia da minha parte pensar que eu estaria mudando o pensamento. Mas acredito que ao ter contacto com o meu trabalho, ele [o visitante] possa ter uma certa curiosidade de ir para casa e pesquisar, não só sobre a questão da arte primitiva, do homem primitivo, mas quanto às questões ligadas à contemporaneidade, como a guerra e o conflito”, nota o artista, esperando que o seu trabalho “leve um pouco essa consciência e faça pensar”.