A mais antiga olaria conhecida da Lusitânia romana, produtora de ânforas destinadas ao envase de conservas de peixe, foi descoberta em Peniche, em 1998, e continua a empenhar os arqueológos.
Entre 29 de agosto e 1 de setembro decorreu mais uma campanha de investigação – a 22.ª – do Sítio Arqueológico do Morraçal da Ajuda onde se encontra o complexo oleiro que laborou entre finais do séc. I a.C. e inícios do séc. III d.C..
“A matriz económica de índole piscatória de que Peniche é, ainda hoje, detentora, terá sido, assim, notória há 2000 anos”, refere a Câmara Municipal em nota de imprensa.
Foram as obras de construção dos campos de ténis, junto à Escola Secundária de Peniche, em 1998, que puseram a descoberto vestígios de um forno de cerâmica da época romana. As escavações arqueológicas que se seguiram permitiram “identificar a presença de um complexo oleiro composto por quatro fornos e diversas entulheiras preenchidas com peças rejeitadas por defeitos de fabrico”.
A olaria produzia, para além de contentores anfóricos, cerâmica de construção (tijolos e telhas), peças de cerâmica de uso comum (púcaros, terrinas, tachos, panelas), mas também pesos de rede, pesos de tear e “imitações” de formas da luxuosa cerâmica terra sigillata.
Na campanha que agora se realizou, “os arqueólogos estiveram a estudar materiais cerâmicos com destaque para as cerâmicas finas, recolhidos no sítio arqueológico e guardados na reserva técnica da Rede Museológica municipal”.
A direção científica do estudo destes materiais está entregue aos arqueólogos Guilherme Cardoso, Severino Rodrigues, Eurico Sepúlveda e Inês Ribeiro, autores da monografia “A Olaria Romana de Lúcio. Morraçal da Ajuda (Peniche – Portugal)”, publicada pelo Município de Peniche em 2018. A obra encontra-se disponível para venda no Museu da Renda de Bilros de Peniche e para consulta no centro de documentação da Rede Museológica e na Biblioteca Municipal de Peniche.
“A olaria foi fundada por Lúcio Arvénio Rustico, um cidadão romano que terá iniciado a produção de ânforas para exportar garum e outros derivados piscícolas, como o peixe capturado no mar de Peniche, que era transformado em fábricas de conservas de peixe que terão existido na ilha de Peniche”, esclarece a autarquia.
Citada na nota de imprensa, Ana Batalha, vereadora responsável pelo pelouro da Cultura, sublinha que a descoberta do centro oleiro “é, sem dúvida, um importante testemunho que reforça e afirma a ligação de Peniche ao mar e a exploração do que este tem de melhor ainda hoje, o seu peixe”.