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Leiria

Arguidos negam ao Tribunal de Leiria acusação de rapto de menor para casamento

Arguidos alegam que vítimas mentiram neste caso de um alegado rapto de menor para casamento

Fachada do edifício do Tribunal de Leiria

Três dos 11 arguidos que hoje começaram a ser julgados no Tribunal Judicial de Leiria por um alegado caso de rapto de menor para casamento afirmaram que as vítimas mentiram e negaram os factos que constam da acusação.

O Tribunal Judicial de Leiria começou hoje a julgar 11 arguidos, sendo que a falta de comparência de uma das acusadas e a sua não notificação levou a que a juíza presidente decidisse pela separação no processo.

Apenas oito arguidos marcaram presença, quatro dos quais decidiram prestar declarações. Três acusados de vários crimes, entre os quais o de rapto agravado, disseram que o pai da jovem que terá sido raptada “mentiu”. “Não fiz nada a ninguém. Não raptei ninguém. É tudo mentira dele”, afirmaram.

A advogada, que responde pelo crime de favorecimento pessoal na forma tentada, também desmentiu que tenha alguma vez contactado o pai da menor pedindo-lhe que retirasse a queixa contra os arguidos.

A arguida afirmou que apenas falou uma única vez com o pai da menor para o informar de que iria representar os arguidos no processo de que estavam pronunciados. “Eles são todos família e eu trabalhei com todos. Esse telefonema era exclusivamente para dar conhecimento à família do Joaquim de que iria representar a família Monteiro neste processo. Achei que, enquanto advogada da família, deveria fazê-lo, pela lealdade” com que “sempre pautei a relação com todos”, explicou.

Durante a sessão da manhã, a juíza presidente agradeceu ainda aos guardas prisionais “pela colaboração” com o tribunal, por trazerem os presos preventivos e permitirem, assim, a realização do julgamento, apesar da greve do setor que está a decorrer.

Segundo o despacho do Ministério Público, os arguidos, vários em prisão preventiva, estão acusados dos crimes de rapto agravado, na forma tentada e consumada, atos preparatórios (de casamento forçado), homicídio qualificado na forma tentada, detenção de arma proibida, violação de domicílio agravado, dano com violência, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada e resistência e coação sobre funcionário.

Na acusação, o Ministério Público (MP) refere que, no dia 29 de maio de 2021, um dos arguidos, “de acordo com os costumes e tradição ciganos” pediu ao ofendido que a sua filha, à data com 13 anos, “ficasse noiva” do seu filho, também de 13 anos, “com vista a futuro casamento entre os menores”, tendo o ofendido concordado.

No dia 04 de junho, o ofendido telefonou a um dos arguidos e “disse-lhe que já não pretendia dar a filha em noivado”.

Nessa sequência, oito arguidos em “conjugação de esforços e de intentos entre si e ainda com um indivíduo de identidade não apurada, conhecido por “Zé”, engendraram um plano para subtraírem a menor” da sua residência, em Santa Eufémia, concelho de Leiria.

O objetivo, segundo o despacho, era levá-la até ao outro menor por forma a que “mantivessem relações sexuais de cópula e assim levar a que os progenitores da menor acabassem por consentir no almejado casamento a celebrar segundo os costumes e tradições da etnia cigana e por força dos mesmos”.

Entre os dias 04 e 06 de junho, os arguidos com “dois homens e uma mulher de identidades não apuradas, engendraram novo plano para subtraírem a menor”.

Segundo o MP, a jovem foi levada para uma residencial na Marinha Grande, onde a esperava o menor, para que ambos passassem a noite, o que não se concretizou, adianta o MP.

A advogada arguida no processo aconselhou o ofendido a retirar a queixa, lê-se ainda no despacho, pedindo para “pensar bem”, “porque não ia acabar bem”.

O MP pede ainda uma indemnização no valor de 30 mil euros para a menor e para um dos seus irmãos.

O julgamento prossegue à tarde.

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