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Ambiente

Leiria lança projeto de reciclagem de roupa usada com escolas e instituições

“Se Não Vestes, Valoriza!” envolve 15 escolas do concelho, estando ainda previstos pontos de recolha no edifício da Câmara e em sete instituições de solidariedade social.

“Se Não Vestes, Valoriza!” é o mote de um novo projeto que a Câmara de Leiria vai lançar em outubro para recolha, reciclagem e valorização de resíduos têxteis.

O projeto-piloto irá numa primeira fase contar com a participação de 15 escolas do concelho, que passarão a ser também pontos de recolha de vestuário usado para reciclagem ou doação.

A rede irá estender-se aos Paços do Concelho e a sete instituições de solidariedade social, num total de 23 locais, que ficarão também disponíveis para a entrega de roupa por parte da população.

O investimento para o primeiro ano do projeto ronda os 24 mil euros, ficando a sua implementação e gestão a cargo da To-Be-Green, empresa derivada (spin-off) da Universidade do Minho, que resultou, em 2019, de um projeto de investigação liderado por António Dinis Marques, docente do Departamento de Engenharia Têxtil.

Luís Lopes, vereador do Ambiente na Câmara de Leiria, considera o montante em causa “relativo”, e diz-se confiante que terá retorno, considerando que “quantas mais toneladas deixarem de ir parar ao aterro, menos custos terá o município”.

Na apresentação pública do projeto, esta quarta-feira, o autarca destacou ainda o papel das escolas selecionadas para serem parceiras e promotoras do “Se Não Vestes, Valoriza!” nesta primeira fase, sendo a maioria membros da rede Eco-Escolas “com uma cultura enraizada e anos de trabalho desenvolvido em matéria de educação e sensibilização ambienta”.

Segundo Luís Lopes, este novo sistema “enquadra-se na política de economia sustentável que a Câmara pretende implementar” e visa “dar resposta a uma necessidade legal” que obriga à criação por parte dos municípios de um circuito de recolha e tratamento de têxteis até 2025. É objetivo não só reduzir a sua deposição em aterro, e por consequência os custos e impacto ambiental associados, como também poupar recursos inerentes à indústria têxtil ao converter peças em fim de vida noutros artigos, explicou.  

“Criar uma economia circular de têxteis em Portugal” reduzindo o seu impacto no ambiente é a principal missão da To-Be-Green, referiu por seu turno Filipe Falcão, coordenador de operações da empresa.

À To-Be-Green caberá a recolha mensal dos artigos entregues, a sua triagem, separando a roupa em bom estado para ser reutilizada e doada, das peças em fim de vida de acordo com o tipo de tecido e cores para serem transformadas em fio ou feltro, que servirão de matéria-prima para produção de vestuário, acessórios ou artigos lúdico-pedagógicos.

Podem ser entregues quaisquer peças de vestuário e têxteis lar, excetuando roupa interior, sapatos, malas, acessórios e artigos com pelo.

“Pretendemos educar as novas camadas e as que estão no mercado de trabalho para perceberem que todos os hábitos que temos, nomeadamente no consumo de roupa e moda, podem ser mais responsáveis, e fazer a diferença no futuro para combater as alterações climáticas e, assim, conseguir ter cidades e comunidades mais sustentáveis”, acrescentou.

Filipe Falcão realçou ainda as vantagens da economia circular para o ambiente, em contraponto com a economia linear, e a importância do eco-design na conceção de novos produtos, de modo a “aumentar a sua utilização” e possibilitar a reciclagem futura dos diferentes materiais utilizados.

Para este projeto a To-Be-Green desenvolveu uma aplicação móvel e uma plataforma web que visam promover a troca e reciclagem de vestuário através de um sistema de pontos. As peças entregues serão o objeto de validação, sendo atribuídos pontos às escolas e instituições, que os poderão utilizar para adquirir artigos resultantes da reciclagem dos resíduos têxteis, através de “procedimentos inovadores”.

Entre estes, contam-se t-shirts, polos, gorros, como também cabides – produzidos a partir de máscaras descartáveis -, suportes para telemóveis, pastas para documentos ou ipad, jogos e animais em feltro.

Segundo Filipe Falcão, já foi criada uma loja virtual para Leiria, sendo objetivo instalar a curto prazo uma loja física que permitirá também a “aquisição” de peças em segunda-mão.

A aposta no envolvimento das escolas e instituições tem por objetivo “alavancar o projeto” e “ganhar escala”, salientou Luís Lopes, certo da adesão da população.

“Não é por falta de têxteis que não vamos conseguir dinamizar este projeto”, considerou, lembrando as cerca de 60 toneladas de vestuário recolhidas no âmbito da campanha a favor da Ucrânia.

Nesta primeira fase, e além do edifício da Câmara, haverá pontos de recolha nas escolas do 1º ciclo de Regueira de Pontes, Marrazes, Maceira e na escola Branca, nas EB/S Henrique Sommer, EB 2,3 de Marrazes e EB 2,3 Dr. Correia Mateus, no Centro de Bem-Estar Infantil de Monte Real e no Jardim O Fraldinhas, na EBI de Colmeias e na Secundária Afonso Lopes Vieira, nos colégios Senhor dos Milagres, Dr. Luís Pereira da Costa e Conciliar de Maria Imaculada (Cruz da Areia) e na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria.

Sabia que…

200 mil toneladas
É a quantidade média de têxteis descartados e depositados em aterros por ano em Portugal, segundo estimativas da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Este volume corresponde a cerca de 4% do total de resíduos produzidos no país e não inclui a quantidade de peças colocadas no lixo indiferenciado.

2.700 litros
É o volume de água necessário à produção de uma t-shirt branca de algodão sendo que a quantidade aumenta sempre que se acrescenta cor, algum tipo de acabamento ou se altera o corte, explicou Filipe Falcão.

10.000 litros
É a quantidade estimada de água despendida para a confeção de um par de calças de ganga.

50%
É o peso estimado atribuído aos transportes e consumo de combustíveis no impacto ambiental associado à indústria têxtil, em todas as fases, desde a recolha à preparação da matéria-prima, produção e distribuição. Frisando que as compras online agravam este impacto por incrementarem os gastos com a distribuição, Filipe Falcão destaca vantagens em “consumir localmente”, de modo a poupar recursos e a favorecer a economia local, e do modelo “slow fashion” em detrimento do “fast fashion”.

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