Vieram de Minas Gerais em digressão para mostrar a Portugal a arte das danças urbanas made in Brasil. Pelo caminho, em Ourém, em meados de setembro, deram vários workshops que fizeram vibrar os participantes, fosse na rua, na escola de dança ou no Centro de Reabilitação e Integração de Ourém (CRIO).
Por iniciativa do Teatro Municipal de Ourém (TMO), o Grupo Impacto lançou várias provocações na cidade. “Desde logo na escola de dança [Arabesque], onde os alunos tiveram mesmo de sair da zona de conforto”, pois os artistas brasileiros “fizeram os alunos habituados a dançar em pontas a fazerem danças urbanas”, recorda o diretor do TMO, João Aidos, instituição que trouxe os performers à região.
No Jardim Municipal Le Plessis – Trévise, também em Ourém, houve uma celebração pública com a comunidade através da dança, mas o momento mais intenso estava reservado para o CRIO, que trabalha com pessoas com necessidades educativas especiais ou com limitações ao nível do desenvolvimento, como Trissomia 21, Autismo ou Paralisia Cerebral.
“A equipa do TMO fez-lhes uma proposta para algo que eles nunca tinham feito na vida: trabalharem com pessoas com necessidades especiais”, explica João Aidos. Ainda no Brasil, Impacto preparou-se para esse desafio, frequentando um curso específico para estes públicos.
E, quando chegou o dia, o workshop era aguardado com grande expectativa, recorda ao REGIÃO DE LEIRIA o professor do CRIO, Vasco Silva. “FEz muito sentido, porque os nossos utentes gostam de dança e música, é a área forte deles”, acrescenta, admitindo que “foi com bastante entusiasmo” que o Impacto foi recebido na escola.
À partida, o objetivo era envolver 12 pessoas do CRIO no workshop. Mas a instituição pediu que outros utentes e colabores pudessem assistir. Resultado: a sessão transbordou de entusiasmo e emoção, extravasando bastante o número de participantes previstos. “Foi espetacular: começaram os 12 mais ativos e depois participaram quase 30, todos envolvidos e contagiados pelo que ali se passou”, conta Vasco Silva.
Há já dois anos sem poder realizar o habitual espetáculo anual devido à pandemia, o CRIO espera poder voltar a palco entretanto. E com repertório novo. “Este ano é bem provável que haja alguma inspiração daqui, com uns ritmos um bocadinho diferentes”, antecipa Vasco Silva.
Mais: também para o Grupo Impacto a experiência no CRIO deixa marca. “Notámos neles que tínhamos superado as expectativas que traziam. Foi bastante gratificante para as duas partes”, realça o professor. Tanto assim que, segundo o diretor do TMO, “o que aconteceu foi de tal maneira incrível e tocante que o grupo [Impacto] decidiu começar a fazer isto no Brasil, com instituições dedicadas a quem tem necessidades especiais”.
Para João Aidos, o que se passou em setembro com a passagem do Impacto por Ourém “não há dúvida que é serviço público”:
“Ganhámos estas pessoas, transformámos estas pessoas, de um lado e do outro”, a tal ponto que, do CRIO, já veio a resposta: “Vieram ter connosco, a perguntar: e agora? O que se segue?”. E já há planos para envolver a comunidade CRIO num próximo espetáculo do TMO.
O público jovem preocupa-nos bastante e estamos a tentar fazer uma programação regular desde o pré-escolar aos adolescentes, às pessoas com idade maior ou às pessoas com necessidades especiais.