Oito horas por dia, seis dias por semana, com chuva, frio ou calor. Sentadas, com uma luz branca e intensa por cima, um grupo de mulheres dedicou horas de vida a escolher carvões para a investigação científica da mina da Guimarota, entre 1973 e 1982. Entre elas estava Natália Costa, então com 14 anos. Lá em baixo, os mineiros enchiam vagões com carvão. Cá em cima, era distribuído sobre uma mesa, onde elas selecionavam o minério.
“Chegámos a ser oito pessoas a partir e fazer a escolha do carvão”, recorda. Tinham instruções para procurar “dentes de dinossauro, de mamíferos, ossos de crocodilos…”. Natália trabalhou ali dois anos, trocando as aulas de costura pela hipótese de ganhar algum dinheiro na mina. “Pagavam 100 escudos por semana e depois tínhamos prémios consoante o que encontrássemos. Cada dente de mamífero eram 25 escudos. Um esqueleto eram mil escudos”.
O sacrifício valia a pena? “Não sei, levava-se muitas marteladas nos dedos! E estar ali o dia inteiro sentada, com a luz à frente dos olhos…”. Nesses anos “fizeram-se amigos para a vida” e ficou uma história para contar. Mas há sequelas a lamentar. Como quando o cabo do vagão partiu e Natália e as colegas tiveram de ir lá abaixo, à mina, empurrá-lo. “Quando se rebentava o cabo era uma tragédia. Arranjámos lá mazelas que ficaram para o resto da vida”.
As descidas ao fundo da mina, para empurrar o vagão ou para limpeza dos restos de carvão e lamas, eram encaradas com naturalidade. “Não tinha medo. Quando somos jovens, somos muito aventureiros. Se calhar hoje tinha mais receio!”. Recorda-se de ser “muito fundo e íngreme”: “Diziam que passava por baixo da panificadora, onde hoje é o Lidl, e chegava ao rio”. A mina, na verdade, estende-se até bastante além desses limites.
Esqueleto encontrado no carvão valeu mil escudos e uma ida à praia da Polvoeira
Natália Costa, que trabalhou dois anos na triagem do minério retirado da Guimarota, recorda essa experiência na década de 70 do século XX.