Uma jovem de um grupo de quatro arguidos acusados de um crime de roubo a um militar do Exército em fevereiro de 2022, na cidade de Leiria, disse sexta-feira, dia 10, em tribunal, que todos agrediram a vítima.
No Tribunal Judicial de Leiria, onde hoje começou o julgamento, a arguida começou por dizer que lamentava o que aconteceu à vítima, garantindo, inicialmente, não lhe ter batido.
“Não agredi, não roubei”, declarou a jovem de 25 anos ao tribunal singular, assumindo que estava com “o telemóvel e com o cartão de crédito” do militar, mas não foi quem retirou os bens àquele.
À pergunta sobre quem bateu na vítima, a arguida destacou dois arguidos, que não os conseguiu separar da vítima, sendo que um terceiro deu “duas, três chapadas”.
Confrontada com as declarações que deu ao juiz de instrução criminal a pedido do Ministério Público, na sequência da “contradição” com as afirmações prestadas em tribunal, a procuradora da República questionou se “todos bateram, inclusive a senhora”, ao que a arguida respondeu positivamente.
No despacho de acusação lê-se que, na madrugada de 18 de fevereiro de 2022, quatro jovens, com idades entre os 17 e os 25 anos, dois deles estudantes, viram o militar, na zona da Fonte Luminosa, depois de este sair de uma discoteca.
Os arguidos, três homens e uma mulher, decidiram então “apoderar-se dos bens e dinheiro” que a vítima, de 20 anos, trazia, “recorrendo à força física, se necessário”.
O Ministério Público (MP) adiantou que os arguidos perguntaram ao ofendido como estava o ambiente na discoteca, mas este não lhes respondeu, seguindo a pé na direção das escadas que dão acesso à rua Machado dos Santos.
No cimo dessas escadas, os arguidos cercaram a vítima e questionaram-na se tinha tabaco, ao que esta respondeu negativamente, tendo aqueles pedido a carteira, mas aquela recusou entregá-la.
O ofendido conseguiu fugir, em direção ao Largo da República, onde estão vários serviços públicos, incluindo Tribunal Judicial, mas os suspeitos alcançaram-no.
Um deles empurrou-o para o chão e “desferiu-lhe vários pontapés, atingindo-o em todo o corpo, principalmente na zona da cabeça, tendo sido acompanhado pelos demais arguidos que, também, desferiram vários pontapés e murros”, adiantou o MP.
Enquanto dois dos suspeitos “continuavam a esmurrar e a pontapear” a vítima, um terceiro retirou-lhe o telemóvel e carteira, a qual tinha dinheiro e diversos documentos. Todos fugiram do local.
No julgamento, um outro arguido disse ao tribunal que queria admitir o seu erro e “gostava também de pedir perdão” ao militar.
“Foi um momento difícil da minha vida. Estava a viver na rua”, declarou.
Questionado se já pediu desculpa, o arguido referiu estar proibido de contactar o militar.
Este arguido – outros dois acusados remeteram-se ao silêncio – relatou que, “por iniciativa própria”, decidiu abordar a vítima e perguntar como estava o ambiente na discoteca.
“Ele ignorou-me e não gostei da ignorância que ele teve para comigo, voltei para o meu grupo e eu disse para os outros arguidos irem comigo” e intercetá-lo, adiantou, assumindo que iniciou a perseguição à vítima, mas acabou por ficar para trás.
“Quando vi, já ele estava no chão, não vi agressões nenhumas”, afiançou, tendo sido depois confrontado com imagens de videovigilância da Polícia de Segurança Pública.
Na sessão, prestaram depoimento a vítima, assistente no processo, e várias testemunhas.
O militar explicou como começou e se desenvolveu a perseguição, referiu que foi pontapeado na cabeça, mas disse ser impossível responder se foi um ou se foram os quatro arguidos que o agrediram.
O julgamento prossegue no dia 28.