Dezassete concertos compõem a programação central do Música em Leiria, que cresceu apesar de ter ficado sem financiamento da Direção-Geral das Artes (DGArtes) pela primeira vez em 41 anos, salientou hoje, 27 de fevereiro, o presidente do Orfeão de Leiria, que organiza o festival.
“São 40 edições ininterruptas do festival mais antigo, que nunca parou. Não fazia sentido [parar], nem que o festival tivesse de ter um cunho diferente e eventualmente mais pequeno. Mas não, ele cresceu”, disse Vítor Lourenço, no dia de apresentação da programação do 41º Música em Leiria.
“A nossa dinâmica não pára porque alguém parou”, frisou o presidente do Orfeão, lembrando que, além da programação principal onde “metade dos nossos concertos são feitos por entidades que foram apoiadas pelo Ministério da Cultura”, foi acrescentado “um programa novo”.
Na pré-abertura do festival, é estreado o Ciclo de Órgão, “algo que nunca se fez em Leiria”, com concertos nos dias 10, 11 e 12 de março. “Para o ano será internacional”, antecipou.
A ausência de financiamento da DGArtes transformou a realização “num desafio maior” mas, apesar disso, “conseguimos, naturalmente, manter o festival que candidatámos à DGArtes, na sua integridade”, até elevando a fasquia.
“Nos últimos anos, se calhar é o festival mais rico que temos, em diversidade, em contemporaneidade, em inovação e em criação também. Mas para nós não ter o cunho da DGArtes não é nada agradável”, reconheceu Vítor Lourenço.
O festival torna-se possível porque “houve uma reação solidária com o Orfeão de todos os nossos parceiros e instituições da região”.
“Felizmente toda a gente tem a noção da importância do Orfeão para a afirmação regional”, notou, lembrando o esforço na procura de “mais apoios de base local e regional”, por forma a manter “o nosso festival autónomo e independente desses processos concursais”.
Quanto à programação, o diretor artístico António Vassalo Lourenço destaca a manutenção da filosofia, que passa por levar a Leiria “músicos de referência portugueses, não só consagrados como alguns jovens valores em ascensão”.
Juntam-se ainda “projetos inovadores e estreias”, não só “da música que normalmente apelidamos de raiz clássica, porque é a base do nosso festival”, mas também “o cruzamento com essas outras linguagens”.
É o caso de “Trash!”, espetáculo de comédia, percussão e reciclagem das Produções Ylana & Tothem, que abre o festival no dia 17 de março, no Teatro José Lúcio da Silva (TJLS).
“A partir da música clássica, fazem a sua desconstrução e interpelam-nos para outras questões: é um espetáculo essencialmente de percussão, que usa materiais reciclados para a sua execução”.
Em 2023 há ainda criações que alertam para temas de índole social, como a violência doméstica ou as questões de género e cruzamentos vários, como o que encerra o festival, juntando Maria Mendes, portuguesa radicada na Holanda, com a Filarmonia das Beiras, e que resulta “num projeto que é de jazz sinfónico”.
“Temos espetáculos para muito tipo de público diferente”, diz Vassalo Lourenço, que acredita que o Música em Leiria “tem tudo para continuar a fazer a diferença”.
O Música em Leiria foi apresentado hoje, com recital do violoncelista João Pedro Gonçalves, vencedor do Prémio Jovens Músicos 2020/21, promovido pela Antena 2.
Depois da abertura oficial no dia 17 de março, com “Trash!”, a programação segue para Pombal, a 18 de março, com “Ri-te como Jacques!”, uma homenagem a Offenbach pela Plateia Protagonista.
O Trio Manuel Oliveira leva “Entre-lugar” ao TJLS no dia 19 de março.
Inicia-se depois um ciclo dedicado à música de câmara: no Solar dos Ataídes, tocam Bruno Monteiro, Miguel Rocha e João Paulo Santos, no dia 21 de março, no programa “Korngold – Música para violino, violoncelo e piano”; e António Rosado e Filipe Quaresma, no dia 22, com “Beethoven – Cello sonatas e variations”; seguem-se Nuno Pinto & Bernardo Soares, no dia 23, no Teatro Miguel Franco, em Leiria, com “A volta ao mundo em 11h”.
A ópera também faz parte da programação com “Lugar Comum – Mudando o que tem que ser mudado”, do Quarteto Contratempus, resultado de um projeto comunitário de prevenção de violência contra as mulheres, desenvolvido com vários grupos de utentes da Misericórdia do Porto, que sobe ao palco do TJLS, no dia 25 de março.
A 30 de março apresenta-se na Igreja de São Francisco, em Leiria, o Iberian Ensemble, com “A música setecentista nas cortes europeias”.
Abril começa no Mosteiro da Batalha: no dia 1 a Orquestra Filarmonia das Beiras, Coro do Orfeão de Leiria, Coro de Câmara da Ourearte e Chorus Auris interpretam o “Requiem” de Gabriel Fauré.
A Orquestra de Sopros de Leiria sobe ao palco do TJLS no dia 2 de abril e a Camerata e Coro de Câmara do Orfeão de Leiria atua na Igreja de São Pedro, também em Leiria, no dia 4 do mesmo mês.
Num salto fora do distrito de Leiria, no dia 5 de abril, o festival leva à Igreja de Nossa Senhora das Misericórdias, no concelho de Ourém, distrito de Santarém, nova interpretação de “Requiem” do compositor francês.
A música contemporânea e de câmara do Ars Ad Hoc ouve-se no TJLS no dia 14 de abril, enquanto no dia seguinte, Moços do Coro estreiam uma obra de Eugénio Amorim na Sé Catedral de Leiria.
O grupo vocal feminino Quatro de Nós vai ao Teatro Stephens, na Marinha Grande, no dia 21 de abril, e o Quorum Ballet dança “Romeu & Julieta” no TJLS no dia 22.
O festival encerra com “Close to me – Jazz sinfónico com uma leitura moderna ao fado”, por Maria Mendes e a Orquestra Filarmonia das Beiras, no TJLS, a 23 de abril.