Dois nomeados aos Óscares, vários premiados no Sundance e nos BAFTA e múltiplas seleções para alguns dos festivais mais conceituados do mundo integram a programação da 12ª edição do ciclo de cinema documental Hádoc, que arranca a 4 de abril e se prolonga, quinzenalmente, até ao fim de junho em Leiria.
São sete filmes escolhidos com critério para mostrar no Teatro Miguel Franco “o melhor do cinema documental do ano passado”, avança Nuno Granja, da ecO, associação que assume a organização do ciclo.
“Temos um alinhamento muito equilibrado e interessante”, diz António Madeira, outro dos coordenadores e programadores do Hádoc, que se assume como plataforma de divulgação de cinema documental, tendo em vista “criar uma base de discussão dos temas e de debate sobre a atualidade”, frisa Nuno Granja.
A abrir o Hádoc, a 4 de abril, há um fillme sobre Leonard Cohen, “Hallellujah: Leonard Cohen, uma viagem, uma canção”, que mergulha na carreira do músico a partir da sua música mais conhecida.
Nas escolhas para esta edição há dois filmes que podem ser considerados “de autor”: um de Paulo Carneiro, “Périphérique Nord”, e “A loja de penhores, “um filme polaco bastante divertido”, antecipa Granja.
Há também para ver dois documentários sobre atualidade, como é o caso de “O território”, de Alex Pritz, sobre “a luta dos indígenas no Brasil e a proteção da floresta”, e “Retirada”, de Matthew Heineman, “que foca os últimos meses da permanência dos americanos no Afeganistão”.
A lista de filmes a exibir completa-se com dois documentários que foram nomeados aos Óscares, mas não venceram:
“Tudo o que respira”, de Shaunak Se, sobre dois irmãos que se dedicam a proteger o milhafre preto em Nova Dehli, na Índia; e a fechar o ciclo, “Amor vulcânico”, de Sara Dosa, “uma história fantástica, feita só com imagens de arquivo sobre dois vulcanólogos que eram um casal. É muito engraçada a dinâmica do casal e o amor deles pela vulcanologia”, conclui Nuno Granja.
Todos os filmes são exibidos no Teatro Miguel Franco, às terças-feiras, a partir das 21h30. Os bilhetes custam 4 euros.
“As pessoas cantam ‘Aleluia’ há milhares de anos, para confirmar a nossa curta viagem aqui”, diz o lendário cantor e poeta canadiano Leonard Cohen no início deste retrato, que se foca na sua música mais conhecida e adaptada, Hallelujah. O filme é composto por material de arquivo inédito de concertos e entrevistas de rádio e TV com o próprio Cohen, bem como conversas com pessoas que tiveram um papel importante na sua vida e na (re)criação desta canção. Os vários capítulos são dedicados ao desenvolvimento da carreira de Cohen e às origens de Hallelujah. Cohen trabalhou na canção durante 7 anos, acabando com mais de 150 versos no papel. Devido a um diretor não cooperante de uma editora, a canção foi silenciosamente esquecida quando foi lançada, mas as adaptações de uma longa lista de outros artistas – como a lendária versão de Jeff Buckley e a interpretação de Rufus Wainwright para a banda sonora do filme de animação Shrek – recuperaram a canção em toda a sua glória.
Numa das cidades mais povoadas do mundo, dois irmãos, Naddem e Saud, dedicam as suas vidas ao esforço quixotesco de proteger o milhafre-preto, uma ave de rapina majestosa essencial para o ecossistema de Nova Déli, que tem caído dos céus a um ritmo alarmante. Entre a toxicidade ambiental e a agitação social, os “irmãos milhafre” passam dia e noite a cuidar das criaturas no seu hospital aviário improvisado numa cave. Este documentário premiado e nomeado para os Óscares deste ano, explora a ligação entre as aves e os irmãos que as ajudam a regressar aos céus, oferecendo uma crónica deslumbrante de coexistência interespécies.
Produzido por Darren Aronofsky para a National Gepgraphic, O Território oferece um olhar imersivo sobre a luta incansável do povo indígena Uru-eu-wau-wau contra a desflorestação trazida por posseiros, grileiros, garimpeiros e outros invasores de terras na Amazónia brasileira. Com uma cinematografia inspiradora e uma sonografia ricamente texturizada, o filme transporta os espectadores para a comunidade Uru-eu-wau-wau e oferece acesso inédito às queimadas e desmatamentos ilegais causados pelos invasores em terras protegidas da Amazónia. Parcialmente filmado e coproduzido pelo povo Uru-eu-wau-wau, O Território baseia-se em imagens captadas ao longo de três anos, enquanto a comunidade arrisca sua vida para montar uma equipa de jornalistas na esperança de expor a verdade.
Jola e Wiesiek são um casal de empresários excêntricos de Bytom, na Polónia. Juntos, gerem uma enorme loja de penhores. No entanto, com o encerramento de minas vizinhas e o desemprego a crescer na cidade, os dias de glória já passaram. Privados de um sustento, os habitantes da “Detroit polaca” penhoram objetos cada vez mais absurdos e inúteis. Nem as tresloucadas ideias publicitárias de Wiesiek nem o coração terno de Jola contrariam as dificuldades do negócio. Ela ajuda os clientes não só com uma palavra amiga, mas também com uma sopa quente ou um casaco aconchegante. Apesar de a loja dar prejuízo, torna-se um polo importante para a comunidade local. Porém, com a falência à porta, a relação de Jola e Wiesiek é posta à prova e eles fazem uma última tentativa de salvar o negócio e o seu amor.
A Retirada capta os últimos nove meses da guerra de 20 anos dos EUA no Afeganistão, vistos de várias perspetivas: a de uma das últimas unidades americanas das Forças Especiais aí destacadas, a de um jovem general afegão e os seus homens que lutam para defender a sua pátria sob grandes dificuldades, e a dos civis que tentam desesperadamente fugir de um país que implode à medida que vai sendo tomado pelos Talibãs. Desde salas de comando raramente vistas, passando pelas linhas da frente de combate e pelo caótico aeroporto de Cabul durante a retirada final dos EUA, o mais recente filme do realizador nomeado ao Óscar e vencedor de um Emmy, Matthew Heineman, abre-nos uma janela cinemática e histórica para o fim da mais longa guerra da América e o preço pago pelos que mais intimamente se envolveram nela.
Um cineasta viaja 2000km em direção a Norte onde se encontra com alguns dos seus compatriotas forçados a deixar o país. Compartilham o amor por carros. Nesses encontros, o veículo é um estímulo para discutir questões de identidade e comunidade, dissolvendo fronteiras entre sociedade e território. No frio da noite escura procuram fugir à dureza do dia.
Katia era geoquímica e Maurice geólogo. O Etna e o Stromboli eram as suas referências. Juntos, partilharam uma vida apaixonante, um amor vulcânico vivido até ao limite. Nos anos 70, iniciaram uma busca conjunta que duraria duas décadas e os levaria a viajar por todo o mundo para estudar a erupção dos vulcões. Maurice filmava em 16 mm e Katia tirava fotos ao pé das crateras. Nunca se tinham visto imagens assim. A cineasta Sara Dose e a sua equipa construíram uma celebração lírica do espírito de aventura destes dois intrépidos cientistas com base no arquivo espetacular dos Kraffts. Amor Vulcânico conta uma história de criação e destruição primordial, mas também uma história época de amor entre dois exploradores que dedicaram as suas vidas ao estudo pioneiro dos vulcões.