A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) manifestou abertura para ouvir especialistas e discutir novas soluções para a obra do promontório da Nazaré, face à oposição da população à destruição do muro centenário junto ao Bico da Memória.
A “disponibilidade para discutir soluções e afinar o projeto” foi manifestada ontem, terça-feira, pelo vice-presidente da Agencia Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado, no final de uma sessão pública de esclarecimento sobre a obra de estabilização das arribas da Nazaré.
O projeto, que prevê intervenções na zona do Bico da Memória, um local emblemático ligado à lenda do Milagre da Nazaré, tem sido contestado pelo Movimento Cívico Pela Defesa do Promontório. Numa petição lançada em meados de março, e subscrita por mais de 2.300 pessoas, o movimento acusou a APA de não ter apresentado publicamente a obra que considera poder por em risco aquele património “material e imaterial de imenso valor para os nazarenos”.
Na sessão realizada na Nazaré, Pimenta Machado recordou que a solução adotada pela APA decorre de “um processo com 20 anos de história”, iniciado em 2001 com a realização de estudos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) que concluíram que as arribas da Nazaré eram, já na altura, das zonas “de maior risco da costa portuguesa” e que determinavam a inevitabilidade de intervenções de estabilização face ao risco de queda de sedimentos.
O risco de derrocada levou à realização de mais estudos e de um projeto de intervenção aprovado pelo anterior executivo, submetido depois a parecer da Direção Geral do Património Cultural (DGPC),que fez depender a aprovação da inclusão de “algumas exigências e recomendações”.
A obra, no valor de 1,7 milhões de euros, foi adjudicada em janeiro deste ano, mas o Movimento Cívico Pela Defesa do Promontório e a população contestaram a destruição de um muro secular e a construção de um plataforma metálica no Bico da Memória, associado à lenda de Dom Fuas Roupinho e ao alegado milagre de Nossa Senhora da Nazaré.
A APA reiterou a garantia de que o projeto respeita o enquadramento patrimonial na zona de proteção da Ermida da Memória, classificada como imóvel de interesse público, bem com o enquadramento paisagístico específico do Sítio da Nazaré , e alertou para a urgência de avançar com a obra que visa minimizar o risco de instabilidade de arriba e de queda de blocos de grandes dimensão que podem atingir a praia.
Técnicos da APA e da empresa responsável pela obra explicaram que na zona do Bico da Memória está prevista a construção de uma plataforma “com a mesma localização e com a mesma configuração da consola natural, mas elevada e ancorada ao terreno mais interior, para aumentar a segurança dos visitantes do local e “diminuir a pressão” sobre a laje.
A intervenção prevê ainda a destruição de um muro setecentista que, segundo a APA, exerce um peso de “40 toneladas” sobre a arriba, a que se juntam, em alturas de grande concentração populacional, cerca de “21 toneladas” de pessoas em cima da rocha, tornando-a instável e aumentando o risco de queda.
Nem a garantia de que a intervenção respeita o património, nem os alertas sobre os risco de derrocada de grandes lajes da arriba demoveram o público que, no final da sessão, elevou o tom dos protestos para garantir que os nazarenos não permitirão a destruição do muro.
Elementos do movimento cívico desafiaram a APA a “parar para repensar” a intervenção, bem como a “discutir outras soluções” com especialistas que defendem ser possível garantir a segurança de pessoas e bens sem destruir o muro do promontório.
“Se têm outras soluções vamos juntar as nossas preocupações com as vossa preocupações e ‘casar’ soluções”, afirmou Pimenta Machado, solicitando a mediação da Câmara da Nazaré para agendar uma reunião para técnicos da APA e especialistas do movimento discutirem o projeto.
De acordo com o presidente da Câmara da Nazaré, Walter Chicharro (PS) a reunião deverá ser agendada para a próxima semana, já que, segundo a APA, a decisão terá que ser célere para cumprir os prazos da obra financiada pelo programa comunitário POSEUR.
A estabilização das arribas da Nazaré representa um investimento de 1.697.400,00 euros para resolver os problemas de instabilidade e desmoronamento de pedras.
A obra inclui também intervenções na zona envolvente da plataforma superior do ascensor e no areal da praia, na base da arriba, para criar um barreira que impeça a queda de pedras sobre os banhistas.