“Nem tudo o que mexe é hiperativo”, mas parece existir uma tendência para classificar como tal. No episódio desta semana do “Mentes Inquietas”, Graça Milheiro, pedopsiquiatra, alerta para isso mesmo: “Estou a lembrar-me de crianças que vêm à consulta por queixas na escola de que é muito agitado, não permanece em tarefa, não se senta na sua cadeira, mas antes de fazermos um diagnóstico de hiperatividade, há que ter algumas considerações”.
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção(PHDA) é de difícil diagnóstico porque “a regra é não estar sozinha, é vir acompanhada de outras perturbações associadas, há muita comorbilidade com perturbações de oposição-desafio, perturbações depressivas, de ansiedade e há muitos sintomas que são comuns”, refere.
Dependendo da faixa etária, os sintomas podem ser diferentes. No 1.º ciclo, 5.º e 6.º anos, é mais prevalente a hiperatividade, a agitação. À medida que a criança vai crescendo, acaba por ser mais frequente a desatenção e vai diminuindo a parte da agitação.
Daniel Machado explica que, entre os adultos, as manifestações de agitação e hiperatividade são diferentes. Confirmando as dificuldades de diagnóstico também entre adultos, o médico interno de psiquiatria lembra que estes têm muito mais exigências e regras sociais a cumprir e que as pessoas, invariavelmente, tentam adaptar-se a isso. Por essa razão, na idade adulta a componente mais hiperativa e da agitação vai traduzir-se numa certa inquietude, sensação de ansiedade permanente, de não conseguir relaxar nunca, alguma instabilidade emocional, irritabilidade. “São sintomas que do ponto de vista comportamental são muito mais contidos, mas do ponto de vista emocional causam mais distúrbio”, complementa.
Daniel Machado reforça que a PHDA “é uma doença neuropsiquiátrica, no sentido que é uma perturbação do neurodesenvolvimento, é crónica, existe desde que o cérebro se forma e permanece ao longo da vida.
“Portanto, nos adultos com esta perturbação, se se procurar e investigar bem, há já estes défices e estas dificuldades desde a infância e que se mantêm até à vida adulta”.
Uma vez diagnosticada a PHDA, o tratamento passa quase sempre pela medicação. Os dois médicos alertam, no entanto, para a necessidade de desmistificar. “Há muitos mitos relativamente à medicação para a hiperatividade”, nomeadamente a dependência e a predisposição para o consumo de estupefacientes.
Nos adultos, Daniel Machado reforça que a medicação é muito eficaz e que, no primeiro dia, já se sente uma diferença. “Se tomam, não sentem diferença, aumenta-se a dose, não sentem nada, se calhar nem é uma PHDA”, refere.