Depois destes banhos de multidão, de excelentes palavras proferidas, ao país, aos políticos, à igreja e aos jovens e de tantos gestos, o que fazer? Que caminhos a percorrer? Que coisas a mudar? Que atitudes e comportamentos a ter? Das duas uma: ou cai tudo em saco roto e continuamos a colocar vinho novo em odres velhos, ou então, arregaçamos as mangas, tomamos consciência do que nos foi exortado e vamos ser agentes de mudança de um país, de uma sociedade e de uma igreja renovada e com compromissos de mudança para um mundo melhor.
E aqui sim, todos, todos, todos somos responsáveis para esta agenda de transformação. O Santo Padre falou para todos. Não foi só para a Igreja ou para os jovens. Falou para o país e para os seus políticos; para os agentes sociais e culturais, para a hierarquia da Igreja portuguesa, para todos os cristãos e acima de tudo para os jovens de todo o mundo. Todos ouviram, todos aplaudiram e todos sorriram. Agora chegou o tempo do compromisso e de cada um assumir as suas responsabilidades.
Temos muito caminho pela frente.
É essencial, não só caminharmos na sinodalidade, mas essencialmente levarmos as mudanças ao quotidiano da nossa igreja e dos nossos cristãos. Não basta só refletir, mas sobretudo agir.
E agir em dimensões concretas, como por exemplo, no campo da liturgia, com celebrações mais vivas e alegres; com celebrações sem demasiados formalismos e esquemas já em desuso, como a utilização do latim e de cânticos que não tocam o coração. Como eu gostava que os adeptos do rito tridentino tivessem a inteligência e a sabedoria de aderirem livremente ao que é “normal” e adequado aos dias de hoje!
No campo sacramental, abandonarmos, de vez, uma pastoral demasiadamente sacramentalista e passarmos a uma pastoral mais missionária e evangelizadora. Deixarmos os espaços sumptuosos dos nossos templos e Igrejas e partirmos para as encruzilhadas e caminhos dos homens de hoje. Irmos ao encontro das pessoas. Há muitas “serafinas” no nosso país e pelo mundo fora.
Na área social, sermos bem mais solidários com quem mais precisa. Faltam-nos gestos concretos de efetiva solidariedade com as igrejas mais pobres e carenciadas.
Na pastoral profética, termos mais coragem para denunciar as injustiças, as mentiras, as opressões e os atropelos à dignidade do ser humano. Sermos corajosos e advogados dos mais frágeis. Infelizmente temos, por vezes, uma hierarquia muito instalada e comodista que se quer dar bem com todos e com tudo.
Na pastoral da família, ousarmos caminhos novos. Acolhermos os divorciados e recém-casados duma forma concreta, não só oferecendo a Palavra, mas também o Pão. Remodelarmos os cursos de preparação para o namoro e casamento. É urgente uma outra linguagem em temas como a conjugalidade, sexualidade e fidelidade.
Como eu gostaria que nos juntássemos mais vezes no parque tejo, não para ver o papa, mas para, mais uma vez, todos juntos, gritarmos por aquilo que vale a pena lutar.
Pe. Nuno Miguel Rodrigues
Leiria