Em tempos foi albergue de trabalhadores de uma empresa mineira. Agora, vai passar a receber estudantes do ensino da superior. A Casa da Obra, imóvel situado a cerca de um quilómetro do centro da vila da Batalha, assume agora a sua nova vida, como residência do ensino superior.
A inauguração da reconversão do imóvel, obra de 1,2 milhões, teve lugar na tarde desta quarta-feira pela ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato.
A cerimónia que carimbou o surgimento da Residência de Estudantes da Batalha, ficou igualmente marcada pela cedência da gestão do imóvel ao Politécnico de Leiria. Durante os próximos 30 anos, a residência que conta com 28 camas, deixa as mãos do município e fica na esfera do Politécnico. Ministra elogia a obra e o modelo escolhido: é exemplo a seguir, afirma.
A criação da residência estudantil foi decidida pelo antecessor de Raul Castro – Paulo Batista Santos, eleito pelo PSD – e coube ao atual presidente da Câmara da Batalha, levar a bom porto da obra.
Nos tempos em que o carvão era riqueza nesta zona, a Casa da Obra servia de albergue aos trabalhadores de uma empresa que o extraía. Atualmente, o ensino é considerado riqueza estratégica, mas o alojamento estudantil passou à condição de mercadoria rara e valiosa.
E numa altura em que todos os tipos de alojamento atingem rendas invejáveis, o autarca que preside ao município da Batalha – eleito pelo movimento independente Batalha é de Todos – dispensa a renda. “Não queremos cobrar renda, mas contrapartidas com os cursos TeSP”.
Os TeSP são cursos técnicos superiores profissionais e constituem a aposta da autarquia da Batalha para colocar o concelho no mapa do ensino superior. Dito de outra forma, a autarquia da Batalha pretende o estreitar de relações com o Politécnico de Leiria.
O primeiro sinal dessa relação mais próxima está prestes a estrear. Um TeSP em Gerontologia, em regime pós-laboral, está já com candidaturas abertas e deverá arrancar já neste ano letivo. Será ministrado na Batalha, no edifício Dr. Gens.
Raul Castro acredita que mais cursos se podem seguir, nomeadamente na área da Cerâmica Fina e “eventualmente, se existirem outras condições, poderá haver outros cursos TeSP”, adiantou. “Que possa ser o início de uma nova caminhada de interação entre o ensino superior e o município”, frisou.
A obra inaugurada hoje está concluída. Por trás dos intervenientes na cerimónia que decorreu esta tarde na nova residência, um enorme cartaz atesta que esta é mais uma obra concluída no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência). De facto, o plano contribui com quase um milhão de euros (914 milhões de euros). Mas nem tudo está terminado. O estacionamento da residência ainda terá de esperar dois ou três meses para ser concluído, admitiu Raul Castro.
Ministra estuda apoios a alunos sem bolsa
Relativamente afastada do centro da vila, a nova residência dista mais de uma dezena de quilómetros da sede do Politécnico de Leiria.
Carlos Rabadão, presidente do Politécnico, confia que esse obstáculo é secundário, atendendo à escassez de residências e à atratividade do novo equipamento. Além do mais, defende, deverá concretizar-se algum ajustamento nos transportes públicos – nomeadamente no serviço Gira Batalha – para que melhor sirva os estudantes. A escassez de residências acabará por encurtar distâncias, confia.
“Há uma preocupação que tem de ser trabalhada, que é a questão dos transportes. Temos o Gira Batalha, temos de acautelar que os alunos poderão ter aulas até às oito da noite”, refere o presidente do Politécnico de Leiria. No entanto, “a necessidade é tanta” e “a residência tem condições excecionais”, ingredientes que acabarão por pesar no sucesso do novo espaço.
Aliás, a escassez no alojamento estudantil foi tema central nos discursos. Carlos Rabadão explicou o esforço em curso para aumentar a oferta do Politécnico de Leiria, que pretende duplicar até 2026.
No universo de todo o Politécnico de Leiria, há cerca de três mil e quinhentos estudantes deslocados, sendo que o instituto apenas dispõe de 400 camas em Leiria (cidade onde estudam dois milhares e meio de estudantes deslocados) e 700 em todo o universo do Politécnico, explicou.
A ministra Elvira Fortunato, que foi recebida pelos sons da tuna do Politécnico de Leiria, reconheceu o problema do alojamento estudantil e anunciou a ampliação no número de camas a nível nacional e adiantou mesmo estar em estudo o apoio para fazer aos custos de alojamento, direcionado aos estudantes que não usufruem de bolsa. “É um assunto que está a ser discutido internamente, porque quando o PRR surgiu existia a pandemia, mas não existia a guerra e com o turismo os preços escalaram e ficamos com menos oferta na parte privada: a que existe é muito cara”, reconheceu.
Aos jornalistas, a governante lembrou que existem apoios para os alunos bolseiros, mas recordou o caso dos alunos que não sendo bolseiros, estão no “limiar de ter bolsa”. É, entende, “importantíssimo que essas famílias sejam ajudadas, estamos a ver o melhor mecanismo para as ajudar, mas quase de certeza absoluta que vamos ajudar”, assegurou.
No seu discurso, a ministra deixou o elogio à parceria que, encabeçada pelo município, permitiu criar a residência. Aos jornalistas reforçou a ideia: “temos um edifício que era devoluto e não era utilizado e por outro lado, para a região é bom pois atrai estudantes para aqui e vai criar dinamismo numa zona mais deserta. São projetos vencedores ‘win-win’”.