A contagem decrescente começou. A obra, no coração da antiga fábrica, foi entregue e o prazo previsto no contrato entrou em vigor. Durante anos, aquele foi espaço para consumo de droga, pouso para toxicodependentes. Antes, e durante cerca de 100 anos, fora fábrica de vidros. Dentro de 14 meses, deverá ser a nova creche da cidade da Marinha Grande.
O projeto leva mais de uma década de promessas, avanços e recuos mas nunca foi concretizado. O ato de consignação da obra aconteceu esta tarde, precisamente nas instalações onde a creche será realidade.
Rui Azinheiro, responsável da empresa Suzifil, Construções Lda, responde pronto à pergunta de Aurélio Ferreira, presidente da Câmara da Marinha Grande. O autarca indaga quando é que a obra está pronta. O construtor, representante da empresa a quem a obra foi entregue, atira o prazo definido no contrato: “daqui a 14 meses”.
Assim, se tudo correr como previsto, em dezembro do ano que vem, a creche na IVIMA, com lugar para 84 crianças, será realidade. No seu discurso, Aurélio Ferreira foi mais cauteloso, apontando a entrada em funcionamento para 2025.
O arquiteto Francisco Marques, responsável da equipa projetista, deu conta do esforço de recuperação do imóvel efetuado ao longo dos anos. Da fase do resgate do imóvel transformado em espaço de consumo de estupefacientes, até à sua recuperação. Chegou a ser pensado para centro associativo, mas a ideia de creche prevaleceu. E avança agora.
A ideia da creche que deveria funcionar 24 horas por dia, naquele local, remonta aos tempos da liderança municipal do socialista Álvaro Pereira. A Álvaro Pereira, na presidência, seguiram-se Paulo Vicente e Cidália Ferreira. E a creche continuou por concretizar.
Na liderança de Aurélio Ferreira (+MPM), o projeto conhece novo impulso. Com a real perspetiva de concretização de tão conturbado projeto, não é de estranhar que o presidente do município da Marinha Grande manifeste a sua satisfação: “hoje é um dia muito especial para os marinhenses, que sentem a creche como um serviço fundamental para as suas vidas, para compatibilizarem o trabalho com a vida familiar”.
Creche 24 horas por dia?
Com quase um milhar de crianças até aos três anos de idade, o concelho conta com pouco mais de meio milhar de vagas entre a oferta pública e privada, sublinhou o autarca. “Afigurava-se importante tomar medidas urgentes para suprir esta carência”, enfatiza, aproveitando a ocasião para lembrar a relevância de acordos de cooperação com a Segurança Social “para as 84 crianças, porque eles significam efetivamente o apoio direto às famílias na gratuitidade desta resposta social”.
Presente na cerimónia, João Paulo Pedrosa, diretor distrital da Segurança Social, sublinhou a importância da nova resposta social que vai surgir na antiga fábrica e lembrou que a gratuitidade do serviço de creche no concelho chegará, no próximo par de meses, a 193 famílias.
A especificidade do concelho da Marinha Grande, com grande atividade fabril, muitas vezes por turnos, não foi esquecida. O funcionamento da creche 24 horas por dia, foi uma meta apontada inicialmente quando, há cerca de 12 anos, o projeto foi anunciado.
A ideia foi, entretanto, relegada para segundo plano, mas Aurélio Ferreira acredita que será possível recuperar essa valência. “A Marinha Grande é uma cidade que trabalha 24 horas por dia, 365 dias por ano”, frisa em declarações ao REGIÃO DE LEIRIA. “Muita gente que vem trabalhar para aqui, que sabe que vem trabalhar por turnos, questiona-se: Eu vou trabalhar e onde é que fica a minha criança? E essa é uma dificuldade que hoje existe”, explica.
O autarca reforça: “creio que a Segurança Social está sensível a este problema. Não nesta primeira fase, nós vamos arrancar com um processo diurno, mas rapidamente vamos pedir à Segurança Social para nos deixar passar para 24 horas”.
Ainda assim, o autarca esclarece que “não queremos que as crianças fiquem 24 horas na creche”. Pretende-se que “as crianças fiquem durante o tempo em que os pais possam estar a trabalhar”.
Um funcionamento mais alargado no tempo é um cenário que o responsável da Segurança Social parece ter acolhido. João Paulo Pedrosa deixou entreaberta essa possibilidade, adiantando que o compromisso do Governo com o sector social e solidário faz referência a “cuidados permanentes em creche” o que significa que, no futuro, poderá ser possível “aumentar o número de horas de frequência de creche mediante a necessidade dos pais”.
A construção da nova creche vai representar um investimento superior a um milhão de euros (1,017 milhões), conta com comparticipação pelo PRR, e vai criar seis salas para 84 crianças até aos três anos de idade. A obra tem um prazo definido: 14 meses.
Com esse dado, João Paulo Pedrosa deixou, em jeito de brincadeira, a indicação à plateia que assistiu à cerimónia: “já podem programar filhos”.