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Cartas ao diretor

Quo Vadis, SNS?

Uma palavra de apreço sobretudo para os que conseguem sobreviver no meio do pandemónio que é a sala das urgências, onde passei uma noite surreal.

Foto do exterior da urgência
Foto de arquivo: Joaquim Dâmaso

Um acidente doméstico levou-me a ter de recorrer às urgências do Hospital de Santo André e ficar aí internado durante uma semana. Gostaria de partilhar algumas constatações que me deixaram a pensar.

Primeiro, um grande obrigado, uma grande saudação de simpatia para todos aqueles com me cruzei durante o período de internamento hospitalar e me serviram com toda a dedicação. Ninguém diria que aqueles funcionários vivem dias difíceis de luta pela dignificação das suas condições profissionais.

Uma palavra de apreço sobretudo para os que conseguem sobreviver no meio do pandemónio que é a sala das urgências, onde passei uma noite surreal. Gemidos, gritos de dor, pedidos constantes de ajuda, gente que entra em delírio, ofensas berradas, impropérios, macas acumuladas que é necessário trocar constantemente de lugar tal qual um jogo de tetris…

Como pode caber tanta gente em tão pouco espaço e haver tão poucos profissionais para tantos pacientes?! No meio da confusão, alguém tem uma convulsão e aparecem, como por milagre, três anjos protetores. Que discernimento, que eficácia, que capacidade de encaixe!

Dir-me-ão que nem sempre é assim. Acredito. Se o Serviço Nacional de Saúde está como todos sabemos e falha sobretudo pela falta de cuidados atempados, a culpa não é, de todo, dos operacionais que dão a cara por ele. Só a sua atitude consegue disfarçar as carências e atrozes debilidades. O que falta são meios, meios humanos e materiais. 

Depois, fala-se muito da comida dos hospitais… Sabemos que não estamos num hotel. As sopas não são candidatas à estrela Michelin mas, fechando os olhos, bebem-se bem de um só trago. Quanto ao resto, a coisa não é muito apaladada mas penso que não são justos os qualificativos negativos que muitas vezes lhe são atribuídos.

Convém não esquecer que é “comida de doentes”. Num dos dias fomos até brindados com um gostoso empadão de atum.

Na hora da despedida, fica uma sensação de que os cuidados prestados neste hospital estão no limite das suas capacidades. No entanto, se olharmos para a situação que se vive nos centros de saúde, verificamos que a realidade nos entristece muito mais. Basta a constatação de que na minha união de freguesias quase ninguém tem médico de família atribuído.

As consequências desta falha não são mensuráveis mas são brutais: consultas e exames não realizados ou adiados sistematicamente, diagnósticos que não se concretizam, doenças que se agravam progressivamente…

Para onde vai este Serviço Nacional de Saúde? Os dias estão sombrios. De que nos serve um ministro que reconhece a gravidade da situação mas assobia para o lado? Que será dos pobres que não têm outra possibilidade de recurso? Que futuro para a saúde de todos nós?
Vítor Henriques
Memória

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