A 13ª Semana de Moldes, que reuniu mil participantes na Marinha Grande e Oliveira de Azeméis, demonstrou o alinhamento da indústria portuguesa com as suas congéneres europeias, até nos desafios que estão a enfrentar no mundo.
Um dos temas analisados foi a sustentabilidade, um conceito que não se encerra na componente ambiental, e onde as vertentes económica e social assumem cada vez mais real preponderância. E que não será possível de concretizar sem pessoas, sem qualificações ou sem tecnologia.
As empresas – como destacam as conclusões da semana – têm de estar atentas a estes desafios, preparando-se para um posicionamento mais forte e estruturado no mercado, que permita aproveitar novas chances.
Os participantes também identificaram oportunidades para reforçar a presença de empresas e instituições em novas redes de colaboração e dinamização de novos projetos de Investigação e Desenvolvimento, a nível nacional, mas sobretudo internacional.
O sector aproveitou ainda a oportunidade para olhar para dentro das organizações, das empresas, da indústria, refletindo sobre temas que podem contribuir decisivamente para uma maior competitividade, para o aumento da qual a eficiência e produtividade são elementos estruturantes.
“Há que otimizar recursos, reduzir desperdícios, fazer bem à primeira. Para tal será necessário integrar e desenvolver competências diferenciadoras e processos bem definidos para que as empresas prosperem num mercado altamente competitivo”, lê-se nas conclusões.
A importância da fabricação aditiva para o sector e para a cadeia de valor, e os impactos que esta tecnologia apresenta para a construção de processos, produtos e serviços inovadores e diferenciadores, também esteve em análise.
Mas foi na conferência internacional Moldes Portugal 2023, que encerrou a semana com o tema “Indústria de moldes: O desafio da competitividade na Europa”, que saltou para a cima da bancada um dos problemas europeus mais difíceis de resolver, até porque não é uma simples questão de mercado.
Trata-se das condições negativas de competição que afetam o comércio internacional. Por isso, o sector pediu à Europa que “regule e acompanhe o acesso de terceiros ao mercado interno, limitando uma concorrência desigual que condiciona decisivamente o desenvolvimento e crescimento da indústria de moldes”.
Futuro apresenta-se com muitos obstáculos à indústria europeia
A indústria de moldes portuguesa e as suas congéneres europeias querem que a Europa tome medidas para evitar a comercialização no mercado interno de produtos e serviços fornecidos em concorrência desleal.
O presidente da Associação Nacional da Indústria de Moldes (Cefamol), João Faustino, realçou que o sector “necessita de uma clara política europeia de suporte ao desenvolvimento industrial, que imponha as mesmas regras a todos quantos operam neste espaço económico, constituindo e valorizando as efetivas estratégias de reindustrialização e de nearshoring [negócios em proximidade]”.
Esta ideia já tinha ficado explicitada nas conclusões da semana, que decorreu em simultâneo na Marinha Grande e Oliveira de Azeméis. “O futuro ainda se apresenta com muitos obstáculos, os desafios e a situação atual dos nossos congéneres europeus é semelhante à nossa, e elementos como a cooperação e diversificação de mercados são fundamentais para o sucesso futuro”, refere o texto, lido pelo secretário-geral da Cefamol, Manuel Oliveira.
Mas, “para que tal aconteça, será também decisivo que a Europa regule e acompanhe o acesso de terceiros ao mercado interno, limitando uma concorrência desigual que condiciona decisivamente o desenvolvimento e crescimento da indústria de moldes nesta região”, referem as conclusões, apresentadas no último dia dos trabalhos, sexta-feira, 24, na Marinha Grande, evidenciado o conteúdo da conferência internacional Moldes Portugal 2023.
Esta conferência, um dos pontos altos da semana organizada em conjunto pela Cefamol, Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos (Centimfe) e Pool-Net – Portuguese Tooling & Plastics Network, focou-se em dois pontos: a concorrência desleal, sobretudo asiática, e a necessidade da indústria cerrar fileiras para ultrapassar os desafios que está a enfrentar.
O diretor financeiro da Neckmolde e representante da Cefamol no debate, João Cruz, foi direto à questão asiática: “A indústria chinesa é de sucesso também porque nós a ensinámos. Os chineses aprenderam muito com as companhias europeias. Têm sucesso e merecem-no”, disse, destacando que a justificação para “o seu sucesso está no facto de fazerem moldes com mais eficiência”.
“Esta é principal diferença entre a indústria de moldes em Portugal, e na Europa, e a chinesa e da Ásia. Quando um chinês instala uma máquina maximiza-a ao máximo. Portanto, a grande diferença não é apenas o preço, é também porque são mais eficientes”, adiantou João Cruz.
Na sua perspetiva, a indústria de moldes chinesa “produz depressa e a qualidade não é assim tão baixa”, logo a Europa tem de produzir “com qualidade, mais quantidade, em menos tempo, com menos custos”. Se o primeiro fator de escolha for o preço, “perde porque nunca será igual ao dos asiáticos”, refere o diretor financeiro da Neckmolde, destacando que é preciso “convencer os clientes e Bruxelas das vantagens da sustentabilidade, do nearshoring” e de outros fatores em que a Europa é competitiva.
Esta conferência, intitulada “Indústria de Moldes: O desafio da competitividade na Europa”, foi moderada pelo presidente da International Special Tooling & Machining Association (ISTMA), Bob Williamson. Sobre “os desafios colocados globalmente à indústria de moldes pela sua exposição à Ásia”, referiu que “não se pode culpar os chineses por terem sucesso”. E, ao contrário do que se possa pensar, são “bem treinados, trabalhadores, muito motivados e temos de aceitar isso”.
O representante da União dos Construtores Italianos de Moldes e Equipamentos de Precisão (UCISAP), Fausto Romagnani, também considera que “não temos de culpar os chineses pelo seu sucesso”, mas a questão não é essa. “Nós estamos abertos a competir em qualquer lugar, o problema está nas condições de concorrência”, frisou.
“A verdade é que não estamos a jogar com regras iguais e, depois, há também o problema do cliente, que nos está a impor condições absolutamente insustentáveis. Nós garantimos todos os requisitos: conhecimento, tecnologia, experiência, pessoas qualificadas, sustentabilidade e muitos outros, mas têm de ser usados numa competição correta e justa”.
Quanto à ideia de que a “indústria europeia ensinou a chinesa” – defendida por João Cruz -, Fausto Romagnani contrapõe: “Não é verdade, os nossos clientes sim, permitiram-lhes aceder à tecnologia”. Mas, para além disso, decisivo “é criar as condições corretas de competitividade e iguais no mercado global”.
Até porque, destaca o representante da União dos Construtores Italianos de Moldes e Equipamentos de Precisão, “quem está a tirar uma grande vantagem destas assimetrias nas condições de concorrência são os clientes, o que também não é justo”. E, ainda por cima, a Europa fez “um grande investimento em tecnologia e capacidade de produção na última década, que agora está acima das necessidades do mercado”.
“Os clientes também estão a tirar grande vantagem desta situação, colocando uma enorme pressão nos preços. Mas isto é mercado e com o mercado nós, de alguma maneira, conseguimos jogar, mas temos de poder fazê-lo nas condições corretas e em qualquer lugar, o que não está a acontecer neste momento”, reforça Fausto Romagnani.
O representante do Bydgoszcz Industrial Cluster Tool Valley (Polónia), Marcin Kropidlowski, também se referiu à questão asiática, considerando que, “mesmo que não exista subsidiação direta, há alívios na economia chinesa que se traduzem em custos finais menores”. Por outro lado, destacou que “a Europa tem de perceber que não consegue competir em condições de equidade com regimes não democráticos, que podem fazer o que quiserem para ter vantagem na concorrência internacional”. E, como tal, tem de tomar medidas que de alguma forma protejam a indústria europeia.
Para ultrapassar “o período bastante desafiante” que a indústria de moldes atravessa, “a coisa mais importante é a cooperação e o trabalho conjunto”, considerou Fausto Romagnani, destacando a “importância das associações: cada empresa não tem força para impor nada. O sector é que é estratégico, não uma qualquer empresa isolada. É critico que os países colaborem na Europa”.
O representante da Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações Industriais (VDMA), Alfred Zedtwitz, segue igual raciocínio. “O trabalho em equipa é algo que temos de iniciar, temos de nos coordenar e de sermos mais europeus. A indústria tem de se unir, falar a uma única voz forte a nível europeu para ser ouvida, por exemplo em Bruxelas”.
Antes da conferência internacional Moldes Portugal 2023, João Faustino já tinha lançado o repto aos participantes na semana: “A nossa indústria enfrenta hoje uma grande transformação e um contexto internacional desafiante – resultado de quatro anos de instabilidade dos mercados internacionais -, que as empresas terão grandes dificuldades em ultrapassar isoladamente”.