“Sim, existem sítios onde a opinião do mais novo vale tanto como a opinião do mais velho. Sim, existem sítios onde não importa a religião que sigo nem como a pratico. Sim, existem sítios onde a orientação sexual e a igualdade de género nem são assunto. Sim, existem sítios onde discutir ideias políticas com visões completamente diferentes não traz conflito. Sim, existem sítios onde não é importante de onde venho e que língua falo para me sentir em casa. Sim, existem sítios onde o corpo que tenho, a roupa que visto, a habilidade que possuo e o dinheiro da minha conta não são condições para entrar neles. Sim, existem sítios onde o mais importante é não deixar ninguém de fora, desde o nascimento até à morte”.
O discurso emocionado do presidente Carlos Lopes não deixou ninguém indiferente nas comemorações dos 150 anos da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP).
Fardado como músico da Banda Filarmónica, onde toca trompete, Carlos Lopes marcou a sessão solene de 8 de dezembro, descrevendo como sente a casa. “Que sorte temos de ter tantos bons profissionais, tantos bons voluntários, que permitiram, por exemplo, que mais de 10 mil pessoas usufruíssem dos nossos serviços [este ano]”.
E lembrou que, apesar de tudo, nem tudo é perfeito. “Também ralhamos, também erramos, também contamos tostões, também nos faltam algumas competências, também nos faltam espaços”. Mas, em 150 anos, “demonstrámos que soubemos aprender e que voltaremos sempre para aprender”.
O presidente da SAMP deixou ainda um pedido ao presidente da União das Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes: “Peça lá aos senhores que acelerem as obras do auditório [da Freguesia dos Pousos, em curso após longa paragem] e que celebremos rapidamente o protocolo de colaboração. É que já são tantas as ideias que pode não haver impressora que resista”, brincou.
Na resposta, José Cunha desejou que “daqui a um ano possamos estar a comemorar o aniversário no auditório”.
Maestros de oito nacionalidades discutem música para bandas em Leiria
A comemoração prossegue com a conferência internacional “150 anos de música para banda”, que, entre os dias 19 e 22, junta nos Pousos maestros de oito nacionalidades: da Austrália, Brasil, China, Espanha, Estados Unidos da América, Reino Unido, Suíça e de Portugal.
Ralph Hultgren (Austrália), Dario Sotelo (Brasil), Joseph Cheung (China), Matthew George e Mark Whitlock (Estados Unidos da América), Natalia Montañés Bori (Espanha), Keith Allen (Reino Unido), Felix Hauswirth (Suíça), Bruno Madureira e Jorge Campos (Portugal) são convidados pela Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP) a refletir sobre a evolução das bandas e do seu repertório ao longo do último século e meio.
“Ter em Portugal, e de modo especial na SAMP, este lote de maestros é uma oportunidade única”, afirmou à agência Lusa Alberto Roque, também maestro e responsável pela conferência, realizada a propósito dos 150 anos da instituição de Leiria.
Segundo Alberto Roque, todos os convidados integram a World Association for Symphonic Bands and Ensembles (WASBE) – Associação Mundial de Bandas Sinfónicas e Conjuntos Sinfónicos – e têm “um percurso notável enquanto maestros”.
“A raridade deste momento é que habitualmente só temos a possibilidade de ver maestros de todos os cantos do mundo nas grandes conferências da WASBE, as quais são organizadas com regularidade bianual”, eventos bastante disputados por vários países, “para terem o privilégio de receber maestros e bandas de referência de todo o mundo”.
Na sede da SAMP, nos Pousos, os dez maestros vão contribuir para “mais uma reflexão e afirmação do valor cultural que é representado pelo universo das bandas filarmónicas, ensembles de sopros e outros agrupamentos de sopros profissionais”.
Na conferência “150 anos de música para banda – Uma perspetiva internacional” será partilhada “uma visão representativa do que foram estes últimos 150 anos de música para banda em vários países e continentes”, destacou Alberto Roque.
“Em vez de uma monografia SAMP, a instituição considerou que este poderia ser um contributo mais importante e abrangente, para toda a comunidade bandística”, nota.
A SAMP nasceu há século e meio enquanto banda filarmónica que se mantém no ativo de forma ininterrupta, estendendo hoje a sua ação a áreas como a formação, musicoterapia, terapias expressivas ou intervenção social.
“A SAMP é parte deste enorme património de bandas” porque, realça o maestro, “a sua banda filarmónica mantém viva, há 150 anos, uma prática musical que promove o repertório para banda”, tendo mesmo, nos últimos anos, “realizado encomendas de obras originais para banda a compositores”.
Esse património histórico e contemporâneo colocam a banda dos Pousos “numa linha de programação e criação musical que tem sido discutida pelo mundo bandístico em todas as grandes conferências desta área”, sobretudo pela preocupação com a promoção de “uma variedade de estéticas que incluam a maior diversidade de compositores”.
A conferência começa no dia 19 e encerra no dia 22 de dezembro com um concerto da Banda Sinfónica da PSP, dirigida por todos os maestros convidados.
No espetáculo que terá lugar no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, será apresentado um programa composto por obras representativas dos vários países representados na conferência.