Gil Vicente escreveu, Pedro Oliveira encenou e Francisca Passos Vella interpreta “Pranto de Maria Parda”, a mais recente proposta que “O Nariz” leva a palco, com estreia em Leiria.
Depois da antestreia há um par de semanas, esta sexta-feira, 31 de maio (21h30), no Espaço Nariz Teatro, o grupo leva à cena a peça que Gil Vicente idealizou a partir de encomenda de D. Jão III, em 1522.
“Pranto de Maria Parda” revela importantes críticas à sociedade portuguesa do século XVI, representando as classes populares que viviam a beira da indigência.
O ano de 1521 foi de triste memória para Portugal, pela seca, fome, doença e miséria que provocou. Gil Vicente refletiu isso neste texto e o encenador Pedro Oliveira estabelece “um paralelismo, com um ano de diferença, para o que aconteceu agora com a pandemia”.
“Pranto de Maria Parda”, que se tornou referência no teatro nacional na interpretação de Maria do Céu Guerra. Aqui é Francisca Passos Vella que interpreta Maria Parda, uma mulher que deambula por Lisboa à procura de vinho, que “simboliza a escassez e a miséria desses anos muito maus”.
“Ela anda por Lisboa, o vinho que encontra é caro e pouco, e vê toda aquela miséria”, explica Pedro Oliveira, sobre o texto de Gil Vicente, que “não é uma comédia”.
No meio daquela decadência, Maria Parda faz o seu testamento, de onde surge um dado bastante curioso: uma referência a Leiria.
“Deve ser dos primeiros textos, em forma de teatro, onde se fala de Leiria”, salienta o encenador. Na peça do século XVI, a propósito do testamento, Maria Parda fala de gente de várias terras, umas vezes de forma abonatória, outras nem tanto. “Ela diz que os que vierem de Leiria ao funeral dela, que lhes deem pão, vinho, candeia e cama de graça. Mas os de Óbidos e Bombarral diz para lhes darem tanta porrada…”.