Foi muito oportuna a decisão de comemorar o Dia de Portugal em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, com cerimónias que ficaram marcadas pela homenagem às vítimas dos fogos de 2017. Clamou-se por justiça para este pedaço do distrito de Leiria que, ao contrário do litoral, ocupa o terço inferior das estatísticas que avaliam os 308 concelhos do país.
O futuro dirá se estas celebrações ficam para a história pelas boas intenções dos discursos, ou como o início de um ciclo de reforço de coesão e desenvolvimento. Os anos que antecederam as celebrações assistiram a muitas promessas, mas a poucas concretizações. Na verdade, depois de dezenas de visitas de Estado, pouco ou nada mudou. Aliás, se alguma coisa mudou, foi para pior, todos os concelhos aceleraram a vertigem da desertificação, com menos população e maior envelhecimento.
Os pequenos avanços ficam a dever-se à teimosia de autarcas; o Estado central, por sua vez, não conseguiu realizar nenhuma medida estruturante. As câmaras municipais dão todos os incentivos que podem, mas não têm poder de decisão em matérias determinantes na fixação de empresas e pessoas.
Sete anos depois dos trágicos incêndios, nem sequer o problema das comunicações foi resolvido; a gestão das florestas é uma soma de medidas avulsas, sem visão de conjunto, e o acesso à educação e saúde está longe do necessário.
O poder central além de não fazer o que devia, ainda faz o que não deve, comprometendo o futuro. Autorizar a instalação de uma central de painéis fotovoltaicos na barragem do Cabril é uma machadada no pouco que resta para Pedrógão Grande se afirmar na oferta turística. Dar luz verde à passagem de mais linhas de alta e muito alta tensão é destruir a paisagem e aumentar o risco de ignições.
Nesta edição, olhamos para o enorme potencial destes territórios, mas não deixamos de destacar problemas e ameaças que vão adiando o futuro.