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Faleceu Manuel Fernandes, o treinador que subiu a União de Leiria e gostava do “peixe grelhado” da Praia do Pedrógão

O antigo técnico da União de Leiria, responsável pela subida de divisão em 2008/2009, estava internado há vários dias.

Foram 29 jogos no banco da União de Leiria. A história do “eterno capitão” do Sporting também se conta pela sua passagem pela cidade de Leiria. Manuel Fernandes faleceu hoje, quinta-feira, dia 27, aos 73 anos.

A ligação de Manuel Fernandes a Leiria tem mais de 50 anos, mas já lá vamos.

Comecemos pela história “mais recente”. Na época de 2008/2009, o antigo jogador e treinador do Sporting foi o escolhido pela administração da SAD da União de Leiria para substituir Paulo Alves à frente da equipa que disputava a então Liga de Honra.

O técnico assinou por época e meia e assumiu de imediato o objetivo de tentar a subida de divisão. Se assim o pensou, melhor o executou e, na 30.ª e última jornada, garantiu o segundo lugar da classificação, e a consequente subida, com a vitória por 2-3 frente ao Beira-Mar, em Aveiro.  

Umas semanas antes, no final de março de 2009, a poucas jornadas do final da época, a União segurava o terceiro lugar atrás do Olhanense e Santa Clara. Os adeptos apareciam no estádio e acreditavam no regresso à I Liga.

Nessa altura, o REGIÃO DE LEIRIA passou “Um dia com…” o técnico.

Em Leiria, terra de sportinguistas, dizia sentir-se como “peixe na água”. O Sporting era, aliás, sempre tema de conversa. Porque Manuel Fernandes era treinador da União de Leiria, mas antes de mais, era sportinguista. Já naquela altura, como sempre terá acontecido ao longo da sua vida, sofria com as derrotas, vibrava com as vitórias, sonhava acabar os dias por lá, no clube onde brilhou como poucos.

Para a história fica a goleada ao Benfica, por 7-1, em Dezembro de 1986. Marcou quatro dos golos. Chamaram-lhe “herói”, mas, reconheceu ao nosso jornal, nunca teve tiques de vedeta.

Durante o tempo que permaneceu na cidade do Lis, tinha o hábito de ir até à Praia do Pedrógão três vezes por semana para saborear “o melhor peixe grelhado”. Às vezes convidava os jogadores do plantel. Outras vezes eram os amigos que apareciam, como no dia em que o REGIÃO DE LEIRIA acompanhou o treinador e partilhou a mesa também com outro sportinguista, Dionísio Castro.

A viagem até à praia acontecia porque também precisava de ver o mar, como se fosse o ar que o deixava respirar, não fosse ele filho de pescador.

Continuou por Leiria até finais de setembro de 2009, deixando o clube na 7.ª posição da I Liga, com uma vitória, quatro empates e uma derrota.

Mas a sua ligação a Leiria começou bem antes. Em 1972, já era jogador, fez tropa em Leiria e, por isso, ia ao velhinho Estádio Magalhães Pessoa treinar com a equipa da União de Leiria, clube que mais tarde veio a orientar.

Manuel Fernandes nasceu a 5 de Junho de 1951, em Sarilhos Pequenos, uma pequena freguesia do concelho da Moita, no Ribatejo, onde morava com os pais e as duas irmãs, e onde a mãe, Justina, que morreu quando ele tinha apenas 10 anos, (“chamavam-lhe a ‘Estina”) lhe incutiu o gosto pelo futebol em geral e pelo Sporting em particular. Foi lá que deu os primeiros toques na bola, foi de lá que saiu para o Desportivo da CUF, aos 16 anos, para o futebol profissional.

Era de lá que partia, com o pai, nas férias, para ajudar nas lides do mar, de quem herdou o barco. Foi de lá que partiu para Sarilhos Grandes, quando casou a primeira vez. Foi lá que regressou, muitos anos depois, para casar com a vizinha Nélia, 20 anos mais nova, com quem “andou ao colo”.

É de lá o antigo jogador do Sporting, ponta de lança venerado pelos sportinguistas, que também treinou a União de Leiria e mais dez clubes, apenas um no estrangeiro, o ASA, em Angola.

Teve quatro filhos e vários netos.

Tal como contámos em março de 2009 e que agora aqui recordamos: ele, que até à quarta-classe foi sempre “dos melhores alunos”, ia de madrugada apanhar o autocarro para o Montijo, “empurrado” pelas irmãs. Ainda fez o curso industrial, mas a bola falou mais alto, tornando-o profissional de futebol. Foi assim que ganhou o primeiro ordenado: 800 escudos, mais os 100 por conta da fábrica que sustentava o clube. Comprou um Toyota azul-claro por 80 contos e assim passou a ir de carro para os treinos.

Chegou ao Sporting em 1974, depois da revolução. Ele e o amigo Vítor Pereira ainda tinham mais um ano de contrato, quando lhe choviam convites. Foi com ele que desabafou, “caramba, só o Sporting é que não me quer”. À noite, deixou de ser verdade, com um telefonema. Esteve lá 12 anos. Deixou de jogar futebol aos 37 anos, com a camisola do Vitória de Setúbal.

Mais cauteloso que supersticioso, apreciava a frontalidade e dizia o que sentia, mesmo sabendo que isso lhe podia trazer dissabores. Sempre disse que “gostava de acabar a carreira no Sporting”, como um verdadeiro leão.

O clube não esqueceu o “apaixonado” antigo camisola 9 e prestou-lhe várias homenagens esta temporada. Uma das últimas, talvez, foi a conquista do título nacional.

Manuel Fernandes fez 12 temporadas consecutivas de leão ao peito, marcou 265 golos em 447 jogos oficiais e ganhou dois Campeonatos, duas Taças de Portugal, uma Supertaça e uma Taça de Honra. Como jogador, depois de sair de Alvalade, fez uma última época no Vitória de Setúbal (1987/1988).

Manuel Fernandes, o eterno capitão do Sporting, faleceu hoje, aos 73 anos, vítima de doença.

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