Estou certo que se nos perguntassem, como fugir de uma prisão de alta segurança, a maioria de nós iria imaginar um plano altamente elaborado e desenvolvido durante bastante tempo.
Escavar um túnel seria uma hipótese, meses de trabalho a fio, mas 25 anos de cadeia seria muito mais. Inutilizar as câmaras de vigia e os sensores, certamente iria ajudar à fuga, que à partida seria durante a noite. Poderíamos ainda “anestesiar” um ou dois guardas com uma dose de produto, que também não seria difícil de arranjar.
Enfim, a nossa imaginação iria projetar um plano como nos filmes.
Segundo o presidente do Sindicato dos Guardas Prisionais, os dois principais problemas das cadeias do nosso país, referem-se à “…falta de um plano de segurança e falta de recursos humanos”.
Sendo assim, se não existe um plano de segurança nas prisões para quê complicar o plano de fuga? Por vezes complicamos o que é simples.
Na realidade, uma escada deverá ser suficiente para um plano de fuga bem sucedido. Bem vistas as coisas nem será necessário desligar as câmaras de vigia.
O melhor ainda será planear a “saída” à luz do dia, não vá o indivíduo da escada tropeçar, partir uma perna e lá se vai o plano de fuga.
As primeiras declarações sobre a fuga dos cinco indivíduos da prisão de Vale dos Judeus diziam-nos que estávamos perante um plano complexo, elaborado por profissionais e executado com a cumplicidade de indivíduos com preparação militar especial, ainda no ativo ou não.
Enfim, até poderá ter sido mais ou menos assim. No entanto, convém aos responsáveis por esta situação ter acontecido, passar a imagem de uma fuga com um plano maquiavélico, para ficarmos com a ideia que muito pouco falhou, e que a nossa segurança está garantida e de boa saúde. Quero dizer, está como a saúde!
Nestes casos é difícil perceber se os cúmplices nos estabelecimentos prisionais estão só de um dos lados das grades.
Contudo, a situação lamentável das prisões em Portugal não é nova e é conhecida dos sucessivos governos, mas continua tudo na mesma: falta de segurança e de guardas, má gestão, condições de trabalho precárias, entre outras.
Por mais motivos que existam e que agora sejam de novo objeto de discussão, os factos são concretos e espelham a realidade das nossas prisões.
Desta vez, cinco indivíduos fugiram da prisão mais segura do país e, para tal, utilizaram uma escada!
Rui Fernandes
Maceira, Leiria