O coração deste projeto é o sentido de lugar. O termo “terruja” significa “terra” no calão mirense, a mesma que o chef Diogo Caetano reabraça depois de passar por alguns dos melhores restaurantes do mundo. Natural de Mira de Aire, voltou às origens e lidera este pequeno restaurante inserido no The Nest
by Cooking and Nature, mas com gestão autónoma. Queria dar a conhecer os produtores e ingredientes locais, trabalhar receitas antigas e o “ADN típico” da zona, sob novas roupagens. À carta ou num menu de degustação de nove momentos - pode ser vegetariano, com pairing vínico ou não alcoólico -, serve um casual fine dining “democrático” e sazonal. De sorriso fácil, Diogo prepara e emprata as criações atrás de
um balcão, leva-as à mesa e conversa com o cliente, como se esta fosse uma extensão da sua sala de jantar, sem jalecas, toalhas ou individuais. À vista estão fermentações e conservas e as serras de Aire e Candeeiros, que alimentam esta cozinha: as folhas de mostarda transformam-se em gelados e acompanham tártaro de veado; conjuga-se peras silvestres com vieiras, sabugueiros e morangos,
infusiona-se nêsperas em louro e homenageiase a paisagem com gelados de azeite. O azeite, os espargos e as loiças produzem-se na vizinhança, a broa vem de Alcaria e com o carapau seco da Nazaré esencanta um molho à Bulhão Pato. As pontes tanto aproximam da tradição, à boleia de um estufadinho de coelho, como de paragens distantes, com o creme de ras el hanout ou a maionese de kimchi na intensificada versão do arroz de polvo.
Fonte: Guia de Bem Comer 2024
