As primeiras trutas assilvestradas criadas no Posto Aquícola de Campelo, em Figueiró dos Vinhos, foram libertadas na ribeira de Alge, afluente do rio Zêzere, constituindo uma “mudança de paradigma” nas ações de repovoamento.
“É importante, porque é a primeira libertação dos indivíduos desta espécie, das trutas de rio, produzidas de uma forma completamente distinta daquilo que é a produção tradicional destas trutas, mesmo quando é feita para ações de repovoamento”, disse o investigador Carlos Alexandre, da Universidade de Évora e do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, entidades que têm prestado apoio técnico e científico ao projeto-piloto “CRER – Adaptação do Posto Aquícola de Campelo para Criação Experimental de Trutas Assilvestradas”, pioneiro à escala nacional e internacional, sob a responsabilidade do Município de Figueiró dos Vinhos.
Carlos Alexandre declarou que, apesar serem menos de uma centena os animais libertados neste primeiro ano, têm, contudo, “maior probabilidade de sobrevivência”, porque foram produzidos com condições muito próximas daquilo que vão encontrar na natureza.
“Aquilo que achamos, e estamos a validar isso com as nossas experiências mais científicas, é que estes animais quando chegam à natureza são menos animais, mas têm uma maior probabilidade de sobrevivência. É neste sentido que esta libertação e estes animais que são produzidos em Campelo neste momento são importantes. Podemos assumir isto como uma mudança de paradigma naquilo que são as ações de repovoamento e a promoção do seu sucesso”, destacou.
A monitorização dos animais libertados é feita através de chip, semelhante ao que se coloca nos cães e gatos que, “uma vez recapturado o animal”, permite “identificar exatamente aquele indivíduo, de onde é que ele provém, o comprimento que ele tinha quando foi libertado, quanto é que cresceu, para onde se movimentou”.
Segundo o investigador, a libertação das trutas assilvestradas ocorreu, no último sábado de outubro, apenas em Alge, a primeira ribeira em que está a ser desenvolvido o trabalho, depois de dois anos de ensaios experimentais para testar os novos equipamentos instalados e avaliar a resposta dos peixes estabulados a estes sistemas.
Entretanto, foi reforçado o “lote de reprodutores com animais provenientes” daquela ribeira, referindo que, em dezembro ou janeiro, dependendo da evolução da temperatura da água, “os animais vão atingir a maturidade sexual” e vai poder ser feita, novamente, uma ação de desova.
“O que se segue é um novo ciclo de desova e produção destas trutas, que depois, novamente em setembro, outubro, vão ser libertadas, e num número muito mais significativo”, anteviu.
O objetivo é transformar o Posto de Campelo num centro de reabilitação dos ecossistemas ribeirinhos, de investigação e de restauro das populações piscícolas, frisou, à agência Lusa.
O propósito “é manter a produção dos animais da ribeira de Alge, mas alargar a outras bacias hidrográficas, onde estas populações de truta tenham efetivos mais reduzidos”, assim como a produção no posto de Campelo de “outras espécies piscícolas que estejam em situação também de ameaça e que mereçam ser alvo de programas de repovoamento”, como o salmão, precisou o investigador.
O posto tem capacidade “para produzir qualquer espécie piscícola de água doce” que se entenda dever ser alvo de ações de repovoamento.
O Posto Aquícola de Campelo, gerido pela autarquia, foi adaptado para criação experimental de trutas assilvestradas após um investimento de cerca de um milhão de euros, aprovado em 2020. Fonte da autarquia indicou que o projeto e conteúdos para o centro interpretativo, para mostrar e divulgar o trabalho desenvolvido estão feitos, esperando-se financiamento para a concretização.