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Sociedade

Cruz Vermelha de Leiria tem 120 anos e um futuro cheio de projetos

Aos 120 anos, a delegação de Leiria da Cruz Vermelha Portuguesa mantém um papel de destaque no socorro e apoio à população. Não lhe faltam projetos para perpetuar a sua missão, mas reconhece que precisa de mais voluntários e de uma viatura para a sua estrutura de acolhimento a imigrantes.

Uma equipa efetiva de dez elementos garante o funcionamento diário da delegação de Leiria da CVP Foto: Joaquim Dâmaso

Aos 120 anos, a delegação de Leiria da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) mantém-se discreta na rua Tenente Valadim, no centro da cidade de Leiria, mas cheia de projetos atuais e futuros em prol do apoio social e socorro às populações.

Durante a pandemia, desempenhou um papel de relevo nos programas de testagem da Covid-19 e apoio a lares, tendo recuperado, no regresso à “normalidade”, uma posição de destaque no transporte de doentes, emergência pré-hospitalar e apoio a eventos, maioritariamente desportivos e sociais, ao nível da emergência pré-hospitalar.

Estas são algumas das suas atividades mais visíveis, e para as quais conta com dez funcionários a tempo inteiro, entre tripulantes de ambulâncias, enfermeiro, psicólogo, assistente social e assistente técnico, e com a colaboração de 15 voluntários regulares.

A captação de novos voluntários é uma necessidade e uma das apostas da delegação, que tem assumido vários projetos na área social, como conta ao REGIÃO DE LEIRIA Adélia Miragaia, presidente da direção da instituição.

A Cruz Vermelha é uma instituição de retaguarda. Nós estamos aqui para apoiar e não para estar na linha da frente, como os bombeiros, o INEM, ou o Crescente Vermelho que está na frente de batalha a nível internacional. A nossa missão é estarmos capacitados para prestar apoio às pessoas que ficam desprotegidas. Se não houver estruturas de retaguarda, as pessoas irão sofrer muito mais. A Cruz Vermelha é uma estrutura que está de apoio e retaguarda, sempre presente e pronta para ser ativada para dar suporte à população em situação de catástrofe

Adélia Miragaia
presidente da delegação de Leiria da Cruz Vermelha Portuguesa

Voluntários precisam-se

“Precisamos de voluntários no ativo que assumem um compromisso regular”, adianta a responsável, apontando, entre outras áreas de atuação, a recolha de alimentos, o apoio a eventos ou à estrutura de acolhimento a migrantes ilegais que a delegação gere em Fátima, mediante acordo de cooperação com a Segurança Social de Santarém.

A estrutura, que apoiou, desde 2022, cerca de 250 pessoas, originários de vários países, no Centro Francisco e Jacinta Marto, em Montelo, mudou-se recentemente para uma antiga residencial, também em Fátima, sendo a delegação de Leiria responsável pelo acompanhamento dos utentes encaminhados pela Segurança Social, com vista à sua legalização, autonomização e integração.

No âmbito do “Projeto Fátima”, a CVP de Leiria, que conta com uma equipa fixa de quatro elementos, admite a necessidade de uma viatura de apoio à realização das mais diversas diligências.

Para as restantes atividades, dispõe de uma frota com duas ambulâncias devidamente equipadas para prestação de socorro, “uma delas nova, outra velhinha”, quatro viaturas para transporte de doentes, três delas adaptadas para cadeira de rodas, e uma outra para o transporte de vítimas de violência doméstica em situações de emergência.

10 colaboradores a tempo inteiro compõem a estrutura da delegação de Leiria da Cruz Vermelha Portuguesa

150 famílias recebem regularmente ajuda alimentar e em vestuário por parte da delegação, que apoia principalmente a população do concelho de Leiria

9 famílias afegãs, num total de 41 pessoas, mais quatro jovens refugiados já foram apoiados pela estrutura de Leiria

250 migrantes em situação ilegal no país, todos do sexo masculino, foram acolhidos nos últimos dois anos através do “Projeto Fátima”, com vista à sua legalização e autonomização

Acolher refugiados

Ainda na área social, a delegação abraçou em 2021, finda a pandemia, um projeto de acolhimento de refugiados, tendo prestado assistência, até ao momento, a nove famílias afegãs e a quatro jovens refugiados, num total de 45 pessoas. Atualmente, acompanha duas famílias “em toda a sua vivência diária”, desde a aprendizagem da língua portuguesa ao acesso aos cuidados de saúde, apoio na doença e integração na sociedade e mercado de trabalho.

Segundo explica Sílvia Costeira, membro da direção e coordenadora da CVP de Leiria, este programa resultou de uma parceria com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM) – agora Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Embora com uma duração estimada de 18 meses, as pessoas “permanecem até serem integradas na sociedade”.

Paralelamente, a instituição ajuda cerca de 150 famílias residentes em Leiria, nas vertentes da alimentação e vestuário.

“Fazemos ainda uma distribuição de pão duas vezes por semana e entregamos 48 cabazes mensais”, acrescenta Adélia Miragaia, referindo que o trabalho em rede desenvolvido pelas diversas instituições que atuam no concelho tem surtido resultados positivos e proporcionado várias parcerias.

Combate ao isolamento

“A rede social funciona melhor e existe uma maior colaboração”, garante a responsável, que identifica, ainda assim, a necessidade de mais intervenções para combater o isolamento social da população idosa.

Nesse âmbito, partilha a intenção de avançar com um projeto intergeracional, sensibilizando e desafiando jovens voluntários, e não só, para acompanharem pessoas mais velhas em várias áreas da sua vida diária. A ideia, frisa, não é “apoiar, por exemplo, doentes acamados, o que exige outro tipo de estrutura”. “Não é uma coisa difícil, nem complicada, eles davam um pouco de si e do seu tempo e recebiam em troca porque, de facto, os idosos têm sempre muita coisa para nos oferecer”, defende.

A delegação de Leiria disponibilizou-se ainda para ser parceira num projeto de âmbito nacional, financiado pela Repsol, para apoio a famílias em situação vulnerável durante um determinado período de tempo.

Centro de emergência

Assumindo um papel fundamental no apoio de retaguarda, a CVP de Leiria funciona ainda como centro de emergência, podendo acolher algumas pessoas temporariamente, como tem sucedido, por exemplo, em situações de vagas de frio ao acolher indivíduos sem-abrigo ou vítimas deslocadas na sequência de incêndios.

Além da sua intervenção ao nível da emergência pré-hospitalar, a delegação dinamiza formações em primeiros socorros, suporte básico de vida (SBV) ou SBV com desfibrilhação automática externa (DAE), a pedido de empresas e instituições.

Em janeiro, a delegação irá promover três workshops em primeiros socorros no colégio da Cruz da Areia, para alunos e pais dos vários níveis de ensino.

Todos os elementos da CVP estão, por sua vez, capacitados com formação específica para poderem intervir em situações de emergência nos eventos que assistem.

“Dar formação a todos os voluntários para o caso de ocorrer uma situação em que são chamados a intervir é um bastião nosso. Não facilitamos e qualquer pessoa que esteja ligada de uma forma permanente à nossa delegação tem que ter formação. Isso faz a diferença”, sustenta Sílvia Costeira.

Posto de enfermagem

A reativação do posto de enfermagem na rua Tenente Valadim é outra aposta da direção, que admite poder “servir, em particular, os idosos, que são uma população que precisa de atenção, de algum conforto e de aliviar a solidão”.

O alargamento da distribuição de equipamentos de teleassistência integrados no sistema da Cruz Vermelha Portuguesa, gerido por uma central nacional, é outra iniciativa que a delegação pretende abraçar.

“Em Leiria, instalámos neste trimestre alguns aparelhos e a ideia é alargar, mesmo a nível distrital. Além do apoio prestado, pode ajudar a combater o isolamento das pessoas e o nosso papel seria identificar e propor pessoas que possam beneficiar do projeto”, adianta Adélia Miragaia.

Para a concretização de todos estes projetos, as duas responsáveis insistem na necessidade de reforçar a equipa de voluntários. “Temos 15, e se tivéssemos 30 ou 40, era fantástico”, até para permitir maior rotatividade entre equipas.

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