Um estudo realizado no Hospital de Matosinhos em doentes adultos internados com queixas compatíveis com infeções respiratórias agudas causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR) indica que a mortalidade hospitalar (20%) foi superior à registada entre doentes com gripe (13%), assim como os custos diretos por internamento (1.200 euros a mais por doente).
Segundo a investigação, realizada entre abril de 2018 e março de 2024, os custos diretos por hospitalização para doentes com VSR foram de 4.757 euros, e nos doentes internados com influenza de 3.537 euros.
As complicações também apresentaram percentagens mais elevadas nos doentes com VSR face aos que foram diagnosticados com o vírus que provoca gripe, reporta a agência Lusa.
O estudo retrospetivo de base de dados incluiu todas as admissões hospitalares codificadas como infeções respiratórias agudas entre adultos (18 anos ou mais), com um teste RT-PCR válido, incluindo VSR e influenza. Os dados foram analisados até 90 dias após a admissão ou final da hospitalização.
O VSR transmite-se pela introdução do vírus através do nariz, olhos ou boca depois do contacto com secreções ou objetos contaminados.
Os sintomas e gravidade podem variar de acordo com a idade ou o estado de saúde, sendo os mais frequentes as secreções nasais e oculares, tosse, pieira, febre, dificuldade em respirar, prostração e diminuição do apetite. Em Portugal os surtos por VSR ocorrem sobretudo nos meses de inverno (dezembro e janeiro).
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Segundo os diretores dos serviços de Pediatria dos hospitais D. Estefânia e Santa Maria, em Lisboa, a vacina contra o VSR permitiu reduzir de 40 para cinco os internamentos de bebés em cuidados intensivos no Santa Maria e menos dois terços no Estefânia
Dado surpreendente
O pneumologista Filipe Froes, autor do estudo, destaca como dado surpreendente o facto de se confirmar que o VSR também provoca “doença significativa nos adultos”.
“Sem qualquer dúvida, a maior utilização de recursos de saúde, a par do aumento de mortalidade, é um indicador extremamente importante da maior gravidade dos doentes com VSR”, refere Filipe Froes, sublinhando que estes doentes “são mais graves do que os doentes com gripe, com maior necessidade de cuidados intensivos e de duração do internamento hospitalar”.
Para o especialista, o facto de o VSR ter este impacto também nos adultos “justifica amplamente uma abordagem preventiva”.
“Em relação a infeções respiratórias provocadas por outros vírus e, em particular, pelo vírus influenza, verificou-se um maior risco de falência respiratória, de eventos cardiovasculares e de sobreinfeção bacteriana com o VSR”, explicou.
Segundo o estudo, mais de 80% das pessoas com este diagnóstico tinham idade superior a 60e anos.
O elevado impacto nos serviços de saúde e o peso no internamento de bebés por bronquiolites provocadas por VSR levou no ano passado a Direção-Geral da Saúde a tornar gratuita a vacina para crianças nascidas entre 1 de agosto de 2024 e 31 de março de 2025, entre outros casos específicos.