“Não fui eu”. Esta é a frase que Rui Pinto, professor do Instituto Politécnico de Leiria, tem repetido vezes sem conta desde que alguém lhe roubou a carteira do interior do automóvel que estacionou em Lisboa.
Foi há quatro anos. Desapareceram cheques e documentos de identificação. De imediato fez queixa às autoridades policiais e cancelou os cheques. Rui Pinto julgou que a história acabara ali. Erradamente. Ainda não sabia, mas esperavam-no quatro anos de exasperante impotência perante um roubo de identidade. Um mês depois, começaram os problemas.
Alguém levantara 800 euros da sua conta bancária. Ele bem tinha ativado diversos mecanismos de segurança em relação às suas contas. Teoricamente, só ele as poderia movimentar no balcão de Leiria. Contudo, quem lhe roubou o bilhete de identidade, usara-o para aceder à conta.
Pouco depois chegou o primeiro de dezena e meia de processos-crime por cheques sem cobertura passados em vários pontos do país. Com termo de identidade e residência, efetuou testes de caligrafia, foi ouvido pelas autoridades e foi, naturalmente, ilibado.
Mas “o pior estava para vir”, conta. Há dois anos, ao seu salário de docente passou a ser retirado um terço do valor.
Alguém tinha efetuado, em seu nome, créditos ao consumo. Três. O salário estava penhorado para pagar essas dívidas. “Eu que nunca comprei nada que não pudesse pagar”, lamenta.
Aconselhado pela advogada, depositou à ordem do tribunal o valor em dívida, esperando terminar com a penhora do salário. Sem sucesso. Continuou privado de um terço do ordenado até que saldou a totalidade da dívida. Entre salário penhorado e caução entregue ao tribunal já gastou cerca de 8.500 euros.
Muito embora a queixa que Rui Pinto fez na polícia contra quem lhe roubou os documentos tenha sido rapidamente arquivada, este docente ainda aguarda pela marcação dos julgamentos – que vão decorrer em Gaia – onde procurará provar que foi vítima de um roubo de identidade e não autor dos créditos ao consumo.
“O que impressiona é que nada posso fazer que não seja esperar que a Justiça avance com os processos”, queixa-se. É que “não fui eu e quero limpar o meu nome”, afirma.
(notícia publicada na edição 16 de março de 2012)
Carlos S. Almeida
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