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Rua do Comércio: Memórias do Huambo

Esta loja de ferragens tem no seu nome uma história que começa em África. Situada na avenida Heróis de Angola, em Leiria, há já 36 anos, é um dos espaços comerciais mais antigos da cidade.

Esta loja de ferragens tem no seu nome uma história que começa em África. Situada na avenida Heróis de Angola, em Leiria, há já 36 anos, é um dos espaços comerciais mais antigos da cidade.

José Gaspar Roda fundou o negócio em Leiria há 36 anos (fotografia: Joaquim Dâmaso)

O regresso forçado à metrópole obrigou José Gaspar Pereira Roda, 73 anos, natural da freguesia da Caranguejeira, a começar do zero. A experiência teve início em Angola para onde foi com 18 anos.

Sem “carta de chamada” arriscou e tentou a sorte na cidade do Huambo. Das entrevistas a que foi chamado, acabou por aceitar trabalho numa casa de ferragens, segundo ele “muito antiga e muito conceituada”. Ficou lá vinte anos até ao fim da guerra colonial.

A formação no negócio deve-a ao seu antigo patrão, de quem, diz, “ensinou-me tudo, até a varrer! Foi mais do que um pai…”. Em 1969, detinha 17% da empresa, o que lhe teria dado boas perspetivas, não fosse a intensificação do conflito. O regresso foi inevitável.

Em Leiria, recomeçou “sem nada na mão e só com um carro que tinha conseguido trazer do ultramar. Fui pedir ao banco um empréstimo de um máximo de 500 contos. Os juros eram altíssimos, 33%, o que era insuportável”, recorda.

Apesar de também ser experiente na preparação do café, optou pela área dos materiais de construção, máquinas, ferragens e ferramentas.

Abriu a primeira loja no centro da cidade a 15 de fevereiro de 1976. Ferragens Huambo. Passado pouco tempo, adquiriu um segundo espaço em frente, no outro lado da avenida.

Com o negócio a expandir-se, surgiram mais duas lojas, uma nas arcadas D. João III e outra na Cruz d’Areia.

“O meu antigo patrão dizia que o negócio tinha um telhado de vidro, que se tinha de aprender a dobrar a língua para atender um cliente”, relembra. Não quer que ninguém saia descontente da firma e diz acreditar no que faz.

“Atualmente, com 80% do mercado da construção afetada, já nem se vendem as alcatifas”, lamenta. “A banca não empresta dinheiro e as instituições estatais não estão a pagar atempadamente, o que arrasta toda a gente”.

(notícia publicada na edição de 23 de março 2012)

Nelson Baptista
nelson.baptista@regiaodeleiria.pt

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