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Cultura

É sexta-feira foge comigo: “A era”

Era uma ilha muito engraçada, não tinha céu, não tinha nada.

Era uma ilha muito engraçada, não tinha céu, não tinha nada.

Com a complacência das pessoas que gostavam assim mesmo e eram fieis às suas cores, pairava no ar o fantasma do “orgulhosamente sós”, lado a lado com um conservadorismo parolo. O importante era limpar as ruas de gente estranha e manter a aparência de um lugar que funcionava. O princípio era bem intencionado, mas quando se lembravam de argumentar, traziam ao de cima, como os esgotos após uma grande chuvada, todos os preconceitos de um lugar há muito arredado da modernidade.

As balelas habituais de que quem saía à noite era drogado e convivia com a prostituição eram de um atraso tal que até dava vontade de não lhes explicar nada, tal é merecida a condição de serem ignorantes para o resto da vida.

Um argumento recorrente do observador, era que numa cidade onde não há muito tempo os Mercedes tinham prioridade nos cruzamentos (e ainda hoje os donos dos mesmos não agradecem quando lhes é facilitada a passagem) a avenida principal não passava de mais uma “Rua Direita” (toda a cidade chique tinha uma) com direito a hora de ponta e tudo. Não havia estímulos para as pessoas pararem, antes pelo contrário, quando lá se metiam, só queriam fugir.

E quando essa mesma zona se enchia de gente à noite, em nome desse tal conservadorismo que também pode ser saloio, convocava-se a polícia para evacuar a área e fechar os estabelecimentos comerciais enquanto que, noutro canto da cidade, os marginais aproveitavam a “happy hour” para se dedicarem aos seus furtos, já rotineiros.

Se estavam à espera de gente chique, bem podiam esperar sentados, pois esses estabelecimentos nocturnos não tinham estacionamento à porta e a dita gente fina, tinha os cheques pré-datados a cair na conta da loja de roupa das mais caras da cidade.

Naquela ilha continental, na primeira década do século XXI tudo permanecia normal, como tinha de ser.

texto: Pedro Miguel
voz: Carlos Almeida

fotografia: Joaquim Dâmaso
música: “Taken To Soon”
edição: Manuel Leiria

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