A criatividade do povo lusitano não deixa de nos surpreender e, num dia apenas, conseguimos passar do “Os políticos são uma desgraça, eu sei bem o que é que lhes fazia. Só não saio à rua porque agora não me dá jeito, mas eles nem sabem o que os espera!” para o “Manifestaçõezecas de comunas é o que é e olha que os outros partidos também não são melhores”.
Acho também muita piada ver pessoas que passam horas por dia no Facebook ou a fazer pouco a criticarem com ar de superioridade atletas que passam horas por dia a treinar para terem que mostrar tudo num único instante (quase sempre contra atletas com muito melhores condições de treino e de apoios). Definitivamente o espírito olímpico é uma cena que não assiste aos portugueses que não conseguiram os mínimos.
Podíamos falar em ética e/ou discernimento em vez de espírito olímpico, mas toda a gente sabe (e os portugueses melhor que ninguém) que a inveja e a dor de cotovelo são os melhores disfarces para a preguiça.
Num quadrado de Quino podemos ler que “A preguiça é a mãe de todos os vícios mas uma mãe é uma mãe e é preciso respeitá-la!”
Na verdade quase todos temos a sensação que somos melhores que os demais, que se tivéssemos tido a sorte deles faríamos melhor. O que nos resta agora – a nós, que tivemos azar – é procurar o conforto e a segurança com o mínimo esforço, tendo em conta que “a cavalo dado não se olha o dente”.
Entre sair à rua para criticar quem não tem ética e está a ajudar a desprestigiar o país e ficar em casa a criticar quem está a suar para tentar dignificar a bandeira, o que é que escolhemos?
Ou ficamos em casa ou vamos à praia. Se calhar também era o que Relvas faria.
(texto publicado na edição em papel de 3 de agosto de 2012)