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Crónicas do quinto império: O exemplo da virtude

De uma honestidade pessoal e académica ímpar, o Sr. José Travaços Santos tem contribuído, ao lado de académicos de renome, para um estudo aprofundado da Batalha e do seu mosteiro.

Joaquim Ruivo, professor jruivo2@sapo.pt

Conheci-o já lá vão perto de 40 anos. Eu era um adolescente com a “mania” do teatro e o salão onde ensaiávamos foi tomado nessa noite pelo rancho dos Soutos da Caranguejeira para uma apresentação ao Sr. Travaços.

Talvez ainda nem tivesse 15 anos mas fui-lhe apresentado como “gente grande” e o Sr. Travaços tratou-me como “gente grande”, com uma gentileza e cordialidade que nunca mais esqueci na vida.

Década e meia de docência na Batalha conjuntamente com funções de dirigente associativo, pos­sibilitaram-me o grato prazer de privar amiúde com o Sr. José Travaços Santos, sempre disponível para nos receber, para acolher os nossos alunos, para colaborar com o CEPAE.

Tomei consciência que ao seu trabalho de investigação muito deve a etnografia e o folclore português. Não é por acaso que o seu pioneirismo nos estudos etnográficos regionais, bem como na afirmação do Folclore como um bem coletivo a estudar, preservar e promover, lhe trouxeram reconhecimento nacional e internacional.

Soube também como foi essencial o dinamismo, ação cívica e saber do Sr. José Travaços Santos no contexto associativo para a construção de uma casa-museu rural na Rebolaria (Batalha), para a realização de um festival internacional de folclore, para a promoção de intercâmbios internacionais que têm levado por toda a Europa, de forma prestigiante, a cultura portuguesa.

De uma honestidade pessoal e académica ímpar, o Sr. José Travaços Santos tem contribuído, ao lado de académicos de renome, para um estudo aprofundado da Batalha e do seu mosteiro, tornando incontornável a sua investigação também neste âmbito, e que mereceu o justo reconhecimento da Academia Portuguesa de História.

Sei ainda que no pós-Abril de 1974 foi decisivo o seu empenhamento junto dos governos de então para evitar o delapidar do património associado ao mosteiro, numa altura em que prioridades nacionais punham em risco, por omissão, a sua integridade.

E a sua obra escrita de estudioso e homem de saber tem-se afirmado na publicação de dezenas de estudos, ensaios e opúsculos e numa contribuição sistemática e regular em jornais regionais e nacionais que perdura, infatigavelmente, há mais de cinco décadas.

Diz o saber antigo que uma das melhores aprendizagens da vida é respeitar e seguir o ensinamento dos pais e olhar o exemplo das vidas nobres e virtuosas. Ora, aos meus 15 anos conheci o Sr. Travaços.

(texto publicado a 14 de setembro de 2012)