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reXistência: Gás de xisto

Há largos anos que os EUA recorrem ao shale gas, para reduzir o preço da energia, mas omitem os dados sobre as consequências do mesmo para o meio ambiente e para as populações.

Cláudia Oliveira, assessora de imprensa do BE/Parlamento Europeu rexistencia.co@gmail.com

A chegada do outono e a aproximação do inverno, fazem-nos pensar numa questão menos poética e idílica que o cenário que nos rodeia – quanto nos custará o aquecimento? Seja qual for a fonte de energia usada há um custo inevitável e, infelizmente, para muitos começa a ser impossível pagar a conta.

A noção de escassez das fontes energéticas, o cenário de alterações climáticas e a necessidade de diminuir os custos, têm sido essenciais na definição de uma estratégia energética europeia, que tem promovido a utilização de energias renováveis, menos poluentes, mais acessíveis a todos, que visam a redução das emissões de CO2.

Nem sempre tem sido tão ambiciosa quanto deveria, mas corresponde ao consenso possível.

Mais uma vez estamos perante um cenário quase idílico, mas o ponto final deste cenário é mais aterrador, chama-se “shale gas” ou “fracking” (gás de xisto). Trata-se de um gás cuja formação ocorre em argilas betuminosas a grande profundidade. Para capturá-lo é preciso perfurar o solo a grande profundidade, cerca de 19 milhões de litros de água potável (o suficiente para o consumo anual de mil europeus) e bombear 80 a 300 toneladas de químicos, dos quais cerca de 80% permanecerá no subsolo. Até aqui já temos como consequências diretas: a mutilação da paisagem, a contaminação do solo, a possibilidade de contaminação de lençóis freáticos e um desperdício inqualificável de um dos bens vitais mais precioso – a água. Mas depois da extração o cenário intensifi­ca-se. A extração pode libertar substâncias radioativas e metais pesados que aliados à evaporação dos resíduos tóxicos produzidos formam uma nuvem cancerígena que põe em risco a saúde pública. As águas residuais tóxicas são, em muitos casos, libertadas em estações de tratamento que não estão preparadas para esse tipo de resíduos. A contaminação é iminente e real.

Há largos anos que os EUA recorrem ao shale gas, para reduzir o preço da energia, mas omitem os dados sobre as consequências do mesmo para o meio ambiente e para as populações. A pressão chegou agora à Europa. A indústria, o lucro fácil e imediato, pretendem a generalização deste tipo de gás na UE, ameaçando populações, recursos, ambiente e o futuro.

Há algum tempo recordo­-me de ter lido sobre as reservas de gás de xisto em Alcobaça e Bombarral. Lembro-me que a tónica era colocada no desperdício que representava a sua não utilização. Sinceramente, espero que assim continuem. Desperdício seria utilizá-las.

(texto publicado a 23 de novembro de 2012)