O perímetro do planeta tem cerca de quarenta mil quilómetros e, nos últimos quinze dias, já conto mais de trinta mil por sete cidades. Com o atual acesso à informação, antes de chegarmos a um destino já conseguimos ter uma noção aproximada do que por lá vamos encontrar e mais facilmente nos desiludimos do que nos deslumbramos.
O que não deixa de ser curioso é que, ao tentar conhecer e compreender outras culturas, há sempre pontos que nos unem e, debaixo do regime totalitário chinês, em Xangai, há um grupo de sete pessoas que mantém uma posição de resistência pela via da ação cultural. Chamam-se STD (Sonically Transmited Disease) e desenvolvem, com as mesmas dificuldades e o mesmo reconhecimento (ou falta dele), o mesmo trabalho que a FADE IN faz em Leiria. Têm plena consciência de que a China daqui a dez anos vai ser um país completamente diferente mas recusam baixar os braços perante a crescente tendência consumista de cultura de massas estrangeira que lhes é imposta.
Num dos regressos tenho o prazer de ver um filme que não tem favelas, nem carnaval, nem Rio, nem violência e é apoiado pelo governo brasileiro para candidato aos Óscares (chama-se “O Palhaço” e não fosse a França ter lançado “Os Intocáveis” à corrida, tinha grandes e fundadas esperanças numa nomeação ou mesmo numa estatueta).
Quando todas as culturas do globo se aproximam num gigantesco hipermercado, a contracultura deixou de ser um canto gourmet para passar a um “banco alimentar” que urge preservar, para que daqui a uns anos ainda se consiga pensar livremente.
No meio de tanto ponto no mapa, Leiria continua a ser um dos melhores para se viver. Fica o sentido agradecimento ao Região de Leiria por me permitir as notas e a todos os que, sobretudo pelo voluntariado, continuam a acreditar que a cultura é o futuro.
(texto publicado a 7 de dezembro de 2012)