Professores e arquitetos temem que as obras de remodelação da Escola de Arte e Design das Caldas da Rainha ponham em risco o edifício premiado, mas o Instituto Politécnico de Leiria (IPL) assegura que as características arquitetónicas serão salvaguardadas.
A obra, segundo o IPL, que tutela a ESAD, está orçada em 2,8 milhões de euros e consiste na requalificação das fachadas exteriores, caixilharias, climatização e iluminação.
A necessidade de obras para resolver problemas de climatização, acústica e higiene e segurança, é consensual.
Mas a adjudicação da obra sem o acompanhamento de “arquitetos de idoneidade reconhecida” está a ser contestada pelo Conselho Científico da ESAD que, a semana passada enviou uma carta ao IPL manifestando “preocupação”.
“Não existem condições para que seja mantida a idoneidade do edifício que tem direitos autorais” disse à Lusa Emídio Ferreira, presidente do conselho científico da escola.
Da autoria do já falecido arquiteto Victor Figueiredo, o edifício ganhou o prémio Secil de Arquitetura em 1998, atribuído por um júri que integrou, entre outros, o arquiteto Siza Vieira.
A articulação de vastas áreas de caixilharia com a componente de betão é uma das características do edifício, cujo valor é reconhecido nacional e internacionalmente.
“Para intervir num edifício com este valor é necessário garantir a idoneidade da intervenção” sublinha Emídio Ferreira, defendendo que “a obra deve ser acompanhada por quem tem direitos autorais, a família, ou em que esta delegue”.
A mesma posição é defendida numa petição assinada por 1500 arquitetos (incluindo o júri do Prémio Secil), designers e artistas que temem que a escola “possa ser irremediavelmente desfigurada” e que o prémio possa ser retirado.
“Nunca aconteceu um Prémio Secil sofrer alterações sem ter por base um projeto indiscutível mas apenas um caderno de encargos” disse à Lusa José Neves, primeiro subscritor da petição.
“Desta forma inconsistente a obra vai sem dúvida alterar o projeto e duvido que o prémio se mantenha, porque não acredito que o Secil queira ficar desprestigiado” reforça.
José Neves defendeu junto do IPL a realização de “um projeto de arquitetura entregue a uma equipa multidisciplnar, de qualidade indesmentível, eventualmente indicados pela Ordem dos Arquitetos”.
Mas o presidente do IPL, Nuno Mangas assegura que “não há qualquer risco” de desconfiguração do edifício cuja remodelação vai ser acompanhada por “uma equipa externa” que inclui arquitetos “experientes, competentes.
“O IPL é o principal interessado em que a intervenção seja a melhor possível, preservando a qualidade arquitetónica e criando as condições de conforto” sublinha Nuno Mangas.
Os subscritores da petição e o conselho científico alertam ainda para o perigo de a intervenção pôr em risco o processo de classificação da escola como património da arquitetura contemporânea portuguesa, alegadamente a correr no IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico).
Mas Nuno Mangas esclarece que “não há nenhum processo de classificação em curso”.
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